A contradição da pessoa certa

Em meio a tantas contradições vivenciadas durante a vida, uma das maiores é se deparar com a pessoa certa. Como assim ‘pessoa certa’ se o que ela faz é lhe bagunçar por inteiro? É lhe tirar de seu mundo, lhe puxar pelas mãos e lhe deixar maluco.
A bagunça começa, geralmente, na primeira troca de olhares. Têm-se as reações físicas. O coração acelerado, a dificuldade em falar e a cara de bobo. Mais tarde a bagunça continua. Seus amigos precisam dizer seu nome duas ou três vezes para que responda, fica disperso no trabalho e demora a conseguir dormir.
Acorda no meio da noite com fome, porque se esqueceu até de se alimentar. Comer é um instinto. Como podemos chamar de pessoa certa alguém que faz você deixar de seguir um instinto, mesmo que temporariamente?
Depois vem a loucura. O cara que chamava o Mário Quintana de otário quando tinha que estudá-lo na escola, começa a escrever poemas. Depois ele começa a sentir algo que não existe: uma dor na alma. Para ele, é algo físico. Mas como pode ser algo físico se nem a alma – se é que ela existe – é física?
Às vezes a ‘pessoa certa’ transforma até o gosto musical. O fã de heavy metal que considera até o som do Metallica muito leve, passa a ouvir as baladinhas do Aerosmith ou do Poison.
Depois vêm as viagens decididas de última hora, as mudanças de plano e o efeito anestesiante. A temperatura é de quarenta graus, as pessoas estão com pressa e estressadas por causa do trabalho.
Todo mundo olha para você de cara fechada. Sabe por quê? Basta olhar no espelho. Em meio a toda essa confusão, você está com aquela maldita cara de ‘bobo alegre’. E por quê? Porque você encontrou a ‘pessoa certa’.
As pessoas podem passar pela sua vida e causar nenhum, pouco ou muito impacto. Mas somente uma – ou quando muito duas ou três – vai lhe bagunçar por completo. E essa pessoa, por mais contraditório que isso seja, é a pessoa certa. E recebe esse nome porque é capaz de lhe tirar do seu mundo e do seu conforto, para construir um novo universo ao seu lado.

Bruno da Silva Inácio cursa mestrado na Universidade Federal de Uberlândia, é especialista em Gestão Cultural, Literatura Contemporânea e em Cultura e Literatura. Ele Cursa pós-graduação em Filosofia e Direitos Humanos e em Política e Sociedade. É autor dos livros “Gula, Ira e Todo o Resto”, “Coincidências Arquitetadas” e “Devaneios e alucinações”, além de ter participado de diversas obras impressas e digitais.
É colaborador dos sites Obvious e Superela e responsável pela página “O mundo na minha xícara de café”.