Homil Abdo lamenta prejuízos causados pela monocultura da cana-de-açúcar e ressalta importância de um Distrito Industrial
O convidado dessa semana no especial sobre o futuro de Ituverava é o agricultor Homil Abdo. Na entrevista à Tribuna de Ituverava, ele fala sobre sua chegada à cidade, a monocultura da cana-de-açúcar na região e seus projetos para que o município volte a se desenvolver. Confira:
Apresentação
“Eu sou Homil Abdo, vim de São Joaquim da Barra, casei com Sueli Abdalla Abdo, de tradicional família daqui de Ituverava. Na época, trabalhava no banco Arthur Scatena, e fui transferido para Ituverava. Com o passar do tempo, deixei meu trabalho no banco para administrar a propriedade da mãe da minha esposa, pois estava nas mãos de pessoas que não estavam conseguindo administrá-la com eficiência. Então, passamos – meu sócio Dorival Arantes (in memoriam), meu concunhado, e eu – a cuidar da lavoura e colocar as contas em dia.
Quando minha sogra morreu, a fazenda foi dividida e, hoje, administro a minha parte da propriedade junto ao meu filho, Homil Abdalla Abdo. Investimos parte do plantio em a cana-de-açúcar, que forneço a uma usina, e no restante, plantamos soja, milho e, às vezes, feijão e tomate. Já os vizinhos arrendaram suas terras para usinas, para o plantio de cana”.
Família
“Casei com a Sueli Abdalla Abdo (in memoriam), e tenho dois filhos, o Homil Abdalla Abdo e Denise Abdalla Abdo. A Denise está morando em Ribeirão Preto e se formou em Publicidade e Propaganda. Já o meu filho Homil é o que administra as lavouras, e eu fico no escritório tomando conta da papelada e da parte financeira. E, graças a Deus, está indo tudo muito bem”.
Chegada a Ituverava
“Na época que vim para Ituverava, existia muitas empresas grandes, principalmente no ramo de lavoura. Mas com o tempo, as usinas foram tomando conta, plantando cana em todas as propriedades então para nós, produtores rurais, restou pouca terra para plantar outros produtos, como milho, soja, feijão, tomate, etc.
Assim foi diminuindo o número de revendas e nós ficamos com poucas empresas. Dessa forma, diminuiu o número de pessoas, não só na agricultura, mas também na pecuária. Hoje é muito difícil quem arrendou para cana voltar a plantar lavoura, porque desfez dos maquinários, não tem mais trator para plantar, não tem mais nada, e é muito difícil voltar a comprar novos implementos, equipamentos, plantadeiras, etc. Então estamos reduzidos a poucas culturas em Ituverava”.
Consequências da cana
“O fato de as usinas arrendarem as terras para plantar cana, refletiu no comércio de forma negativa. Tivemos o fechamento de muitas empresas, queda na mão de obra e a dificuldade em retomar à produção de grãos em Ituverava.
A agropecuária antes tinha um grande movimento de gado, o que hoje acredito que diminuiu muito, pois a maioria dos criadores do passado arrendou suas terras para a cana e ficou sem pasto para gado”.
Honestamente, eu acho que praticamente o nosso [cidade] movimento diminuiu mais de 50% em todos os setores, inclusive no comércio. Opções para lazer e diversão também praticamente não existem mais. Lembro que quando fui presidente da Associação Atlética Ituveravense, por cinco anos, tínhamos bailes com lotação máxima e muita gente frequentava o clube. Porém, à medida que o tempo foi passando, esse movimento foi caindo, por muitos fatores”.
Educação e Saúde
“Falo sempre que a Fundação Educacional de Ituverava é hoje a nossa maior empresa, porque gera empregos, gera receita e atrai muitas pessoas de fora para estudar, especialmente o curso de Agronomia, que é essencial para a economia da cidade.
Também vejo a área de saúde de Ituverava como muito boa, já que temos a Santa Casa, o Hospital e Maternidade de Ituverava – São Jorge, AME e outros órgãos que atendem muito bem a população de Ituverava e região”.
Distrito industrial
“Um Distrito Industrial ajudaria muito o comércio e, com isso, vai abrindo a indústria e surgem empregos para a população. Em Ituverava tem faltado muita coisa, como indústrias, que infelizmente perdemos para outras cidades da região por falta de incentivo fiscal”.
Pedágio
“Outro problema é o pedágio, que está praticamente dentro da cidade e a prejudica muito, porque todo mundo que vem para Ituverava, tem que pagar pedágio para vir e para voltar, então fica caro. Muita gente já nem vem para não pagar esse pedágio, e acaba optando por fazer suas compras em outras cidades da região”.
Projetos
“Ituverava deveria investir em indústrias pesadas, com capacidade de empregar muitos funcionários. Hoje, infelizmente, se uma pessoa perde um emprego, ela não consegue encontrar outro, porque a cidade tem poucas oportunidades. Isso é muito triste, porque temos excelente localização geográfica, temos ótimas terras e estamos bem ao lado da Rodovia Anhanguera. Ou seja, temos tudo para ter um maior desenvolvimento”.
Associação Atlética Ituveravense
“Hoje, a Associação Atlética Ituveravense não tem condições de voltar ao que era no passado, com grandes bailes, atrações artísticas de destaque nacional e um público enorme. Lembro que tínhamos grandes eventos ao menos uma vez por mês e que o clube era um verdadeiro ponto de encontro de amigos, seja para conversar, festejar ou mesmo comer algo na lanchonete enquanto escutava música. Hoje tudo isso acabou e não acredito que a AAI tenha condições de voltar a ser como era”.
Tribuna de Ituverava
“Hoje, graças a Deus, nós temos a Tribuna de Ituverava, esse jornal que noticia todos os acontecimentos da cidade e da região. No semanário saem todas as notícias boas e as que não são tão boas assim, mas que precisam ser dadas. Sem dúvida esse jornal é uma das grandes coisas que ainda temos em nossa Ituverava”.