As críticas sociais em Moby Dick

Desde o seu surgimento, a literatura tem, assim como qualquer outra arte, um papel muito importante para a sociedade. Mais do que retratar uma cultura ou contar uma história, as obras literárias possuem, tanto a prosa quanto a poesia, um papel fundamental na crítica aos problemas ocorrentes em um local em determinado período.
Levando em consideração a época e os contextos social e cultural, é possível notar que os clássicos literários não são assim considerados apenas por apresentarem uma história envolvente ou bem escrita, mas sim por criticar, na maior parte das vezes através de metáforas, algum problema presente no meio em que o autor está inserido. No caso de Moby Dick, obra escrita pelo estadunidense Herman Melville em 1851, a situação não é diferente.
O que a princípio parece uma simples representação do dia a dia dos caçadores de baleias em um navio, traz várias críticas, que mesmo apesar de mais de 160 anos depois continuam atuais.
A começar pela fidelidade da representação dos personagens do livro em relação ao comportamento do homem. São todos humanos, demasiados humanos como já dizia Nietzsche.
Não são seres espetaculares, formidáveis ou irreais. São apenas homens do mar. Todos com suas paixões e características humanas. Analisando por essa questão comportamental, surge a primeira crítica da obra: as consequências negativas da obsessão.

A obsessão
O comandante Ahab, capitão do barco Pequod, local em que a história se passa quase que por completa, é obcecado pela baleia-branca Moby Dick, animal que arrancou a sua perna no passado.
Seu desejo de vingança é tamanho que ele deixa de lado a família e embarca na aventura determinado a matar, a qualquer custo, Moby Dick. Seu desejo acaba por trazer uma série de consequências à tripulação. Riquezas são perdidas, sofrimento é causado, além do trágico fim da história, quando a baleia-branca mata todos a bordo, com exceção do jovem Ishmael, o narrador da história.
Com trechos frequentes do texto mostrando a obsessão e irracionalidade de Ahab associado ao final trágico do livro, pode-se notar o desejo de Melville de mostrar que a obsessão prejudica quem a tem e todos a sua volta.

Meio ambiente
Outro ponto interessante abordado por Melville é o meio ambiente. Hoje a questão é tratada em todos os lugares, entretanto, em 1851 não era um assunto relevante. O autor estadunidense foi o pioneiro na abordagem dos recursos ambientais como finitos. Ele deixa claro que a ganância humana poderia exterminar, entre outras coisas, espécies de animais. Nesse ponto, Melville se mostra um gênio, prevendo algo que, de fato, ocorreria tantos anos mais tarde.

Preconceito
Para quem leu a obra-prima da literatura norte-americana, é fácil notar outra importante reflexão proporcionada pelo autor. A bordo do Pequod, todos os homens possuíam uma função. Havia, evidentemente, uma hierarquia, entretanto, homens de diversas raças e crenças ocupavam postos igualmente importantes.
Numa sociedade cheia de preconceito e descriminação como os Estados Unidos na década de 1850, Melville mais uma vez traz uma reflexão, dizendo – de forma indireta – que todos os homens podem exercer cargos importantes, independente da raça ou religião. Além disso, a obra trata as mais diversas religiões com o mesmo respeito.
Vale destacar que no período em que o livro foi escrito, os Estados Unidos estavam se industrializando e, devido a isso, recebia um número alto de imigrantes, que se mudavam para o país para trabalhar.
Eles vieram das mais diversas localidades, trazendo culturas e crenças diferentes, o que não foi bem aceito pela população dos Estados Unidos. Diante disso, Moby Dick também busca fazer com que as pessoas entendam e respeitem as diferenças dos imigrantes.

A obra
Lançado em 1851 pelo autor estadunidense, Herman Melville, Moby Dick é considerado um dos mais importantes livros da literatura norte-americana. O título da obra é o nome da baleia-branca perseguida pelo capitão Ahab e sua tripulação.
Originalmente a obra foi publicada em três fascículos e posteriormente relançado em apenas um livro. Devido ao realismo adotado por Melville em seus livros, todo o ambiente, bem como os personagens são descritos com precisão, transportando os leitores para entrarem a bordo do Pequod.

Bruno da Silva Inácio cursa mestrado na Universidade Federal de Uberlândia, é especialista em Gestão Cultural, Literatura Contemporânea e em Cultura e Literatura.
Ele Cursa pós-graduação em Filosofia e Direitos Humanos e em Política e Sociedade. É autor dos livros “Gula, Ira e Todo o Resto”, “Coincidências Arquitetadas” e “Devaneios e alucinações”, além de ter participado de diversas obras impressas e digitais.
É colaborador dos sites Obvious e Superela e responsável pela página “O mundo na minha xícara de café”.