As muitas coisas que aprendi com a minha mãe

Em algumas das mais recordações mais antigas, me lembro da maneira com que minha mãe me ensinou que vários universos diferentes podem ser acessados através da leitura. E foi esse, provavelmente, o ensinamento mais valioso que já recebi em toda a minha vida.
O que minha mãe me ensinou, no entanto, vai muito além disso. Inclui, por exemplo, segredos culinários e lições sobre humildade.
O engraçado sobre as mães é que elas parecem ter uma pedagogia própria, como se passassem por uma espécie de treinamento durante a gravidez. Assim, elas nos ensinam por meio de suas frases típicas.
Esses ensinamentos incluem economia doméstica (“Desliga essa luz. Você tá pensando que somos sócios da companhia elétrica?”); eficiência na busca de objetos perdidos (“Se eu for aí e encontrar, vou esfregar na sua cara”); consciência de que cada ser humano é único (“Mas você não é todo mundo”) e incentivo à individualidade (“Se seus amigos pularem da ponte, você pula também?”).
É claro que (embora elas não gostem de admitir isso), as mães também erram, e fazem isso nos apresentando “verdades incontestáveis” durante a infância. Depois que crescemos, passamos a ver que elas não estavam sempre certas, especialmente quando nos diziam que leite com manga faz mal ou que assistir muita televisão prejudica drasticamente a visão.
As mães, como também aprendemos quando crescemos, são seres extraordinários e capazes de depositar em seus filhos o seu amor, sem esperar muito em troca. Claro que desejam que os filhos realizem sonhos, tenham um bom emprego e uma educação de qualidade. Mas, acima de tudo isso, o que querem de verdade é vê-los felizes e, de preferência, presentes nos almoços de domingo.
Inclusive, são nesses almoços que, à medida que o tempo passa, conseguimos perceber que as mães são fortes, mas não invencíveis. São nesses momentos, já na vida adulta, que enxergamos um lado mais humano da mulher que nos criou. Vemos que, assim como nós, ela carrega inseguranças, sonhos e decepções.
E é então que acontece uma aproximação mágica, capaz de aumentar a admiração, já enorme. É quando vemos que as mães são muito mais fortes e incríveis do que pensávamos, pois elas não têm superpoderes, mas ainda assim são superpoderosas. E é essa, provavelmente, a segunda maior lição que minha mãe me ensinou.

Bruno da Silva Inácio é jornalista, mestre em Comunicação e pós-graduado em Literatura Contemporânea, Política e Sociedade e Cultura e Literatura. Atualmente cursa quatro especializações (Cinema, Teoria Psicanalítica, Antropologia e Gestão da Comunicação) e reside em Uberlândia, onde trabalha como assessor de imprensa da Prefeitura.
É autor dos livros “Gula, Ira e Todo o Resto” e “Devaneios e alucinações”, participante de outras quinze obras literárias e colaborador da Tribuna de Ituverava e dos sites Obvious, Provocações Filosóficas e Tenho Mais Discos que Amigos. Também manteve, entre 2015 e 2019, a página “O mundo na minha xícara de café”, que chegou a contar com 250 mil seguidores no Facebook.