
Embora diagnóstico seja mais comum na infância, muitas pessoas chegam à fase adulta sem saber que são autistas
O conhecimento sobre o autismo – tema que tem sido abordado pela Tribuna de Ituverava em reportagens especiais em alusão à Campanha Abril Azul – tem avançado, mas ainda persiste uma lacuna importante quando o assunto envolve a fase adulta.
Muitas vezes, a falta de informações específicas impede que adultos no espectro sejam compreendidos, diagnosticados e acompanhados adequadamente, como demonstrou reportagem de Bianca Lodi Rieg publicada no Portal Terra.
Durante o Abril Azul, mês voltado à conscientização sobre o autismo, os sinais do Transtorno do Espectro Autista (TEA) na vida adulta ganham destaque.
Para algumas pessoas, o diagnóstico ocorre na infância; contudo, outras chegam à fase adulta sem saber que são autistas, enfrentando desafios no trabalho, na vida social e nas rotinas diárias.
Muitos adultos no espectro autista passam a vida sem diagnóstico e se mantêm sem compreender por que enfrentam grandes dificuldades em situações do dia a dia.
A ausência de suporte desde cedo pode resultar em isolamento social, dificuldades para manter atividades da vida adulta e baixa autoestima.
Todavia, reconhecer os sinais do espectro autista em adultos é fundamental para garantir acesso a um ambiente mais inclusivo e com oportunidades igualitárias.
Sinais do autismo
A professora Patrícia Dutra, coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera explica que, na vida adulta, os sinais do autismo podem ser mais sutis, frequentemente, confundidos com traços de personalidade.
“Dificuldade em compreender nuances sociais, rigidez com rotinas e hipersensibilidade a estímulos podem ser interpretados erroneamente como falta de adaptação ou timidez excessiva, quando, na verdade, são características do espectro autista”, ressalta a professora.
Sinais do autismo em adultos
Os sinais do Transtorno do Espectro Autista variam de pessoa para pessoa, mas algumas características são comuns.
Entre elas, estão dificuldade nas interações sociais, com desafios para entender expressões faciais, gírias e piadas, o que pode gerar mal-entendidos no ambiente profissional e social.
Muitos adultos atípicos apresentam necessidade de rotinas rígidas, resistindo a mudanças inesperadas, o que pode impactar a adaptação a novos processos no trabalho ou da vida cotidiana.
Outro sinal frequente é a sensibilidade sensorial exacerbada, em que ruídos altos, luzes fortes ou determinadas texturas nas roupas causam desconforto extremo.
Além disso, há dificuldade em expressar emoções, o que pode ser erroneamente interpretado como distanciamento ou frieza.
Ajustes no ambiente profissional
No ambiente profissional, a inclusão de adultos atípicos ainda é um desafio. Contudo, a professora Patrícia Dutra destaca que pequenas adaptações podem fazer grande diferença.
“Empresas devem investir em comunicação objetiva, horários flexíveis e ambientes que minimizem estímulos sensoriais excessivos.
Oferecer espaços mais silenciosos e permitir pausas regulares pode melhorar a produtividade e o bem estar”, explica.
Outra estratégia eficaz é a implementação de mentorias e orientações estruturadas.
“Um acompanhamento mais próximo, com instruções claras e diretas, pode ajudar profissionais autistas a se sentirem mais seguros e confiantes em suas funções”, complementa.
Adaptações nos encontros sociais
Adultos no espectro autista também enfrentam desafios nas interações sociais, especialmente devido ao desconforto em ambientes agitados ou com muitas interações simultâneas.
Muitas vezes, preferem encontros mais estruturados e com menos estímulos, o que pode ser erroneamente interpretado como desinteresse ou antissocialidade.
A professora enfatiza que a inclusão social deve considerar as preferências e limites sensoriais dessas pessoas.
“Encontros em grupos menores e ambientes mais tranquilos costumam ser mais confortáveis para autistas adultos, permitindo interações mais genuínas e sem sobrecarga sensorial”, explica.
PRÁTICAS PARA EVITAR CRISES
Para muitos autistas adultos, manter uma rotina previsível não é apenas uma questão de organização, mas uma necessidade para evitar sobrecarga emocional. Criar um planejamento diário estruturado reduz a ansiedade e melhora a qualidade de vida.
A especialista sugere exercícios físicos diversificados, atividades de relaxamento ou meditação e momentos de descanso para ajudar no equilíbrio emocional.
“A previsibilidade traz segurança, mas é importante encontrar um equilíbrio para lidar com imprevistos sem gerar crises de ansiedade”, pontua.
Inteligência artificial diagnostica autismo com 100% de precisão
O Transtorno do Espectro Autista (TEA), popularmente chamado de autismo, é um transtorno do neurodesenvolvimento.
Normalmente, a condição é diagnosticada na “segunda infância”, entre os 4 e os 6 anos de idade.
Apesar de todos os avanços no conhecimento sobre o TEA, seu diagnóstico ainda pode ser um desafio, especialmente quando o acesso a um psiquiatra infantil especializado é limitado.
Pensando nisso, pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Yonsei, na Coreia do Sul, desenvolveram um método para diagnosticar o transtorno do espectro do autismo e a gravidade dos sintomas em crianças, com 100% de precisão, usando imagens da retina examinadas por um algoritmo de inteligência artificial (IA).
A retina e o nervo óptico funcionam como uma extensão do sistema nervoso central ou uma janela para o cérebro.
Um número cada vez maior de investigadores começa a entender como utilizar essa parte do corpo para obter informações não invasivas relacionadas com o cérebro.
Meio não invasivo
Recentemente, pesquisadores do Reino Unido criaram um meio não invasivo de diagnosticar rapidamente uma concussão, iluminando a retina com um laser seguro para os olhos.
Agora, o estudo sul-coreano indica também que as alterações na retina podem funcionar como biomarcadores para o autismo.
No novo trabalho, publicado na revista científica JAMA Network Open, os pesquisadores recrutaram 958 participantes com idade média de 7,8 anos e fotografaram suas retinas, resultando em um total de 1.890 imagens.
Metade dos participantes foi diagnosticada com TEA e outra metade eram controles com desenvolvimento típico, de mesma idade e sexo.
A gravidade dos sintomas de TEA foi avaliada usando pontuações de gravidade calibradas do Cronograma de Observação de Diagnóstico de Autismo – Segunda Edição (ADOS-2) e pontuações da Escala de Responsividade Social – Segunda Edição (SRS-2).
Em seguida, um algoritmo de aprendizagem profunda foi treinado usando 85% das imagens e a pontuações dos testes de gravidade dos sintomas.
Os 15% restantes das imagens foram retidos para teste.
Precisão
Os resultados mostraram que a ferramenta foi capaz de identificar com 100% de precisão aqueles que tinham autismo e aqueles que não tinham.
Por outro lado, o método não foi tão bom em prever a gravidade dos sintomas.
Mesmo assim, os pesquisadores acreditam que essa inteligência artificial tem muito potencial para ajudar as crianças a obter uma avaliação útil numa idade mais precoce, com uma espera mais curta.
“Nossos modelos tiveram desempenho promissor na diferenciação entre TEA e DT [crianças com desenvolvimento típico] usando fotografias da retina, o que implica que as alterações retinianas no TEA podem ter valor potencial como biomarcadores”, disseram os pesquisadores, em comunicado.
“Nossas descobertas sugerem que as fotografias da retina podem fornecer informações adicionais sobre a gravidade dos sintomas”, concluem os pesquisadores.
PRÓXIMAS ETAPAS DOS ESTUDOS
Os participantes do estudo tinham entre 4 e 18 anos.
São necessários mais estudos para comprovar se a ferramenta pode funcionar também em crianças mais novas, pois nessa fase, a retina ainda está em desenvolvimento.
“Embora sejam necessários estudos futuros para estabelecer a generalização, o nosso estudo representa um passo notável no desenvolvimento de ferramentas objetivas de rastreio do TEA, que podem ajudar a resolver questões urgentes, como a inacessibilidade de avaliações especializadas em psiquiatria infantil devido aos recursos limitados”, afirmam os investigadores.