Segundo a OMS, o uso abusivo de internet, computadores e smartphones aumentou drasticamente
Depois de 28 anos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) vai atualizar a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID, sigla em inglês). A previsão é que a definição de vários transtornos mentais seja reformulada e inclua novos conceitos, como o transtorno por jogos eletrônicos e o transtorno de incongruência de gênero.
A CID é um sistema que foi criado para listar, sob um mesmo padrão, as principais enfermidades, problemas de saúde pública e transtornos que causam morte ou incapacitação de pessoas, além de orientar a conduta de profissionais de saúde na identificação e tratamento dessas doenças.
A referência para a formação da CID é a Nomenclatura Internacional de Doenças, da OMS. No Brasil, a CID baseia as definições dos principais levantamentos estatísticos elaborados pelo Ministério da Saúde.
Atualmente, está em vigor a CID-10, que foi aprovada em 1990. A versão consolidada da nova classificação, que será chamada CID-11, deve ser avaliada durante a Assembleia Mundial de Saúde, prevista para maio deste ano, em Genebra, na Suíça.
Saúde mental
A classificação de 1990 está sendo revisada há alguns anos por uma série de especialistas de diferentes áreas e países, incluindo o Brasil. As mudanças em debate que têm chamado mais atenção são as relacionadas à saúde mental.
Entre as principais alterações, está a inclusão na lista de transtornos mentais ocasionados por comportamentos obsessivos do chamado gaming disorder ou “transtorno por jogos eletrônicos”.
Segundo a OMS, o uso abusivo de internet, computadores, smartphones e outros aparelhos eletrônicos, além do descontrole no uso de videogames, aumentou drasticamente nas últimas décadas e este aumento veio associado a casos documentados de consequências negativas para a saúde. Mas, o assunto ainda está sendo discutido pelos especialistas que participam do processo de definição das novas diretrizes.
Dentre as consequências do transtorno por jogos eletrônicos estão mudanças de humor, ansiedade e estresse.
Segundo Mari, que também é professor titular do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (USP), a 11ª revisão da CID é muito mais ampla e reformula a apresentação de vários transtornos, como o Obsessivo Compulsivo, que deixa a categoria de transtornos neuróticos e passa integrar o conjunto de distúrbios caracterizados por pensamentos e comportamentos repetitivos.
Debate
“Existe um debate se a CID-11 deveria incluir uma categoria de Gaming Disorder, algo como Transtorno por Jogos Eletrônicos, como parte de um comportamento de jogo persistente ou recorrente caracterizado por um descontrole sobre o jogo, em prejuízo de outras atividades na medida em que o jogo tem precedência sobre outros interesses e atividades diárias, mesmo quando a continuação de jogos implica a ocorrência de consequências negativas”, ressalta o psiquiatra Jair Mari, coordenador dos Estudos de Campo no Brasil para o Desenvolvimento da Classificação dos Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-1.
“Se a falta de autocontrole em relação a videogames será legitimada como transtornos específico é tema de debate, uma vez que há dúvidas de como definir o conceito”, explica.
Vício em jogos eletrônicos é caso de saúde pública em muitos países
Os pais podem ter razão quando dizem “esse excesso de games está virando uma doença”. A Organização Mundial da Saúde reconhece os benefícios do mundo virtual como a troca de informações em tempo real. Mas alerta: o exagero é um problema de saúde pública em muitos países.
“A gente tem só que ter o cuidado de separar o que é o realmente excessivo do que é uma prática normal, do que que é jogar um videogame no dia a dia, que o brasileiro gosta muito de jogar videogame”, disse Fernando Chamis, presidente da Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (Abragames).
Para o psiquiatra Cirilo Tissot, a decisão de incluir o vício em games como transtorno vai ajudar os médicos a fazer essa diferença. Ele explica: há uma predisposição genética na maioria dos casos e sinais que servem de alerta.
“Quando eu começo a deixar de fazer outras obrigações, ir na escola, estudar, frequentar relacionamentos sociais, de amigos, quando eu começo a fazer isso em função de jogo, esse é principal sintoma de que a pessoa está viciada, esta compulsiva nessa atividade”, disse.
A dependência em games, assim como em outras atividades, tem uma explicação, uma reação bioquímica dentro do nosso cérebro: ele libera um neurotransmissor chamado dopamina, que dá uma sensação de prazer, euforia, recompensa. Quem se vicia, não consegue viver sem essa descarga de dopamina. Sempre quer mais e joga mais.
Uma clínica de tratamento de dependências a uma hora de São Paulo, longe também de drogas, álcool, excesso de comida, compras, games, está tratando um rapaz que começou a jogar games com 8 anos. A família percebeu que ele estava exagerando aos 11 anos e hoje, aos 26, ele tenta voltar à vida normal, à vida real.
“Já deixei a escola. Até quando estava mais velho assim 13,14 anos, minha mãe viajou duas semanas e fiquei praticamente umas duas semanas sem ir na aula, só jogando”, contou ele.
Acesso limitado
Na clínica, ele tem acesso limitado ao computador e ao smartphone, que usa para tirar fotos e mandar pelas redes sociais para a família.
“O tratamento é justamente a pessoa, na presença da abstinência, aprender a viver de uma forma diferente. As pessoas precisam sim de alegria, felicidade, mas isso a gente pode obter de muitos outros lugares sem estar viciado, sem perder o controle” disse Tissot.
“Eu planejo o futuro com a minha família, com a minha filha, com os meus projetos de trabalho que eu tenho, de conseguir viajar, de conseguir ter minhas coisas, conquistar minha autonomia, sem compulsões”, disse o rapaz da clínica de tratamento de dependências.
Enquete
Para saber o que os ituveravenses pensam a respeito do assunto, a Tribuna de Ituverava foi às ruas nesta semana. Confira:
A Organização Mundial de Saúde (OMS) vai atualizar a Classificação Estatística Internacional de Doenças e incluir novos conceitos, como o transtorno por jogos eletrônicos. Segundo a OMS, o uso abusivo de internet, computadores, smartphones e outros aparelhos eletrônicos, além do descontrole no uso de videogames, aumentou drasticamente nas últimas décadas e este aumento veio associado a casos documentados de consequências negativas para a saúde, como transtornos do humor, ansiedade e estresse. Em sua opinião, os jogos eletrônicos podem trazer malefícios aos jogadores? Por quê? Você conhece alguém que pode ser viciado nesses games?




Tarcísio Henrique Cassiano, 43 anos, motorista






