
Exibição de documentário sobre escritora ituveravense portadora de ELA será na próxima semana
Está programado para quinta-feira, 7 de junho, às 20h, no Centro Cultural “Professor Cícero Barbosa Lima Júnior”, a exibição do documentário “Minha Poesia”, que mostra a história da poetisa ituveravense, Leide Consuelo Quereza Moreira, portadora da ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica). Na ocasião haverá um bate papo com a filha da poeta, Leide Jacob, que é autora do trabalho. O evento é aberto ao público.
O documentário, lançado em 2016, já foi reconhecido e elogiado péla crítica do Brasil e do mundo, sendo, inclusive, premiado com o título de “Melhor Diretor”, em 2017, pelo International Festival Of Red Cross And Health Films, e selecionado para o Festival de Filme Independente de Nova York, no mesmo ano.
O documentário conta com o apoio da Zumbi Posts, JLS Facilidades Sonoras, Upmix, Ponto Maior Design, e da Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica. Em Ituverava, “Minha Poesia” será exibido com o apoio da Prefeitura Municipal de Ituverava, através da Secretaria da Cultura, Turismo e Lazer.
A prefeita Adriana Quireza Jacob Lima Machado, sobrinha da escritora Leide Moreira e prima da diretora Leide Jacob, fala sobre a exibição do filme. “Quero convidar toda a população ituveravense para prestigiar esse evento. O documentário “Minha Poesia” conta uma história maravilhosa, que, com certeza, nos fará emocionar. Contamos com a presença de todos”, declara.
Maiores informações podem ser obtidas pelos telefones (16) 3829-9303, (16) 3729-2736 e (16) 3839-1147.
É DAS LEIDES!
MINHA POESIA é o resultado de um trabalho de mais de uma década de documentação do processo de comunicação da minha mãe, Leide Moreira, que é poeta e somente movimenta o globo ocular para “falar” com as pessoas à sua volta.
Com 57 anos, em 2004, ela começou a perceber a perda da força muscular e, em menos de um ano, todos os movimentos corporais foram comprometidos, restando somente a atividade dos olhos.
Passou, então, a se comunicar com o apoio de uma tabela visual e o auxílio das suas cuidadoras, que, para o processo de transcrição, perguntam-lhe sobre as colunas e linhas/ e ela vai respondendo com um movimento ocular previamente combinado.
Foi uma surpresa, quando, no primeiro contato com a tabela visual, em novembro de 2005, a minha mãe “soltou” duas poesias, “ditando”, letra por letra através das respostas com o jogo de olhares. E, dessa forma, nos dias subsequentes, igual a um furacão, ela criou e revelou uma enxurrada de poesias.
Como eu trabalhava com marketing cultural, não poderia deixar essas poesias perdidas. Então, produzi o primeiro livro, “Letras da minha emoção”, com recursos próprios, para ser um presente de Natal da família para os amigos, em 2006.
Um exemplar chegou às mãos do jornalista Gilberto Dimenstein, que, além de falar sobre o livro em seu programa de rádio, na CBN-SP, também escreveu um artigo para o jornal Folha de S. Paulo, comentando essa nossa publicação. Um amigo, Ralph Peticov, ouviu, ligou para mim e disse: “Leide, esta história dá um filme!”. E me apresentou a uma produtora, que logo se interessou pelo projeto.
A proposta desses profissionais foi coletar depoimentos de uma série de amigos, para falar sobre a minha mãe. Um filme baseado em relatos. Realizaram várias entrevistas, até que chegou o momento em que a produtora queria partir para a edição, certa de que o filme já estava “pronto”, filmado.
No entanto, eu não estava convencida de que isso era o bastante, nem se esse seria o foco ideal para o filme – entrevistar outras pessoas -, já que coletar depoimentos qualquer produtora ou emissora de TV pode fazer. Diante das divergências de abordagem, preferi romper com a produtora. Parar o projeto dela.
Ideia do filme
Mas a ideia do filme não saía mais da minha cabeça. Não tive dúvidas: comprei uma câmera compacta e orientei as cuidadoras da minha mãe a filmar toda vez que ela fosse “escrever”, fazer poesias. Decidi por um trabalho independente e a câmara ficou no quarto dela, com uso livre das cuidadoras.
A partir de 2006, começamos a montar um acervo que reuniu não apenas o nascimento das poesias, mas também outros momentos da vida dela, como passeios, festas, visitas de amigos, etec.
Os anos se passaram. Vieram mais dois livros. Em 2008, “Poesias pra me sentir viva”; e, em 2015, “Não espere de mim apenas poesias”. Muitas poesias viraram músicas, compostas por Nuno Mindelis, Elder Costa e Rafael Toledo.
Diferentemente da posição da antiga produtora, eu tinha certeza de que as pessoas deveriam ser a alma do filme, nascidas no íntimo do quarto da minha mãe; e não os depoimentos de outras pessoas, por mais queridas que fossem.
O meu desejo era mostrar as poesias nascendo numa realidade nua e crua, só com o envolvimento das cuidadoras que, imediatamente, assumiram a documentação das transcrições das poesias.
Sem saber direito o caminho a seguir, investi nas documentações do dia a dia, dando apoio e suporte às cuidadoras e continuando a cuidar do acervo.
Até então, eu havia produzido livros, peças de teatro, concursos, exposições e vários outros projetos que não um filme. E mais, eu me deparei com uma necessidade técnica: eu mesma teria que manusear os arquivos, pois não teria verba para envolver terceiros em um projeto tão longo.
Assim, coloquei “a mão na massa”, quero dizer, o restante do corpo, porque a mão já estava ali há algum tempo. Fui estudar edição de filme, me profissionalizar. Comprei equipamentos e software. E, a partir daquele momento, iniciei a seleção do material.
Um trabalho árduo, intenso e difícil, com um envolvimento emocional enorme, o que me obrigou várias vezes a parar, fosse para repensar caminhos ou simplesmente para um fôlego.
Entretanto, tudo ainda estava um pouco obscuro. Eu precisava saber mais sobre cinema, assistir filmes, constituir um repertório selecionado, de qualidade. Passei a frequentar disciplinas na pós-graduação de Cinema, na USP; e iniciei um MBA em Cinema Documentário na FGV, concluído em 2016.
Definitivamente, aboli entrevistas e depoimentos e partir para um trabalho mais autoral. Estabeleci como foco as poesias e o nascimento de cada uma delas. E, como recorte, eu busquei utilizar somente o conteúdo produzido por minha mãe (poesias e músicas), além das imagens dela.
A princípio, relutei em fazer a locução das poesias, por timidez mesmo. Mas, quando revi o material gravado, encontrei a poesia MINHA VIDA, uma das poucas que eu desenvolvi com ela na tabela e que tem uma narrativa bem otimista, não tive dúvidas: eu também teria que ser personagem no meu filme.
E depois, fui encontrando outros elementos, como imagens antigas da gente se abraçando, que, juntando à poesia MÃE, faria todo sentido, pois, mesmo sendo uma poesia dela, eu, em MINHA POESIA, pediria uma licença poética.
O som também recebeu um tratamento especial com a edição primorosa de João Godoy, que valorizou o ambiente do quarto dela destacando os seus elementos sonoros, como o ruído do respirador, em diferentes texturas, criando sons específicos para os diferentes momentos do filme.
Assim, fiz MINHA POESIA utilizando as poesias criadas por ela, muitas vezes na metalinguagem, como morfologia de uma sintaxe autoral, bem particular, minha.
E fico feliz pelas escolhas e caminhos, pelo resultado. Afinal, este processo todo, apesar de intenso, forte e muitas vezes sofrido, foi enriquecedor.
MINHA POESIA é todo da minha mãe. E é meu também. É das Leides.
Leide Jacob
SOBRE A DIRETORA
Com experiência em produção na área cultural, Leide Jacob já atuou nas artes cênicas, música, literatura e artes plásticas. Atualmente, tem-se dedicado à escrita e à produção audiovisual.
Cuidando de sua mãe, que há mais de dez anos tem Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) e só movimenta o globo ocular, Leide Jacob produziu os três livros que ela escreveu, além de documentar a transcrição de suas poesias nessas condições.
MINHA POESIA, seu primeiro filme, estreou em Nova York, no New York City Indie Film Festival em maio de 2017 e, com ele, em outubro do mesmo ano, ganhou o prêmio de melhor diretora de documentário no XVII International Festival of Red Cross and Health Films, realizado em Varna, Bulgária.
Em 2018, finalizou seu segundo filme documentário, PAGAR 4 NUNCA MAI$. Mantém o blog: leidejacob.wordpress.com

Ituveravense é repleta de exemplos de vontade e superação
Portadora de ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), doença que eliminou todos seus movimentos, com exceção as do globo ocular, a ituveravense Leide Consuelo Quereza Moreira construiu uma trajetória repleta de exemplos para a humanidade. Pela sua dedicação e amor à vida, ela emociona a todos que conhecem a sua história, mesmo que não a fundo.
Leide tem uma vida bastante limitada, vive em seu apartamento em São Paulo, em sistema de home care, com uma UTI instalada em seu dormitório. Está tetraplégica, alimenta-se via gastrostomia (alimentação feita por sonda gástrica ligada ao estômago), respira por aparelhos e é monitorada 24hs por auxiliares de enfermagem e cuidadoras.
Não possui os movimentos, com exceção do globo ocular, não pisca e, apesar das suas limitações físicas, o seu intelecto continua funcionando plenamente.
Livros publicados
Em entrevista concedida à Tribuna de Ituverava em 2009, ela falou sobre o lançamento do seu terceiro livro, que foi no auditório do jornal Folha de São Paulo: “Não espere de mim apenas poesias”, obra de 460 páginas.
Para marcar o lançamento, houve um recital pelas atrizes Gilda Nomacce, que também é ituveravense, e Dani Smith e pelos músicos Elder Costa e Rafael Toledo, com iluminação de Hernandes Oliveira e direção de Donizeti Mazonas.
“Não espere de mim apenas poesias” contou com o patrocínio da área de Doenças Raras da Pfizer e da Casa Hunter – Associação Brasileira dos Portadores da Doença de Hunter e Outras Doenças Raras. A obra teve apoio da Interfarma – Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa e da AbrELA – Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica.
Leide também publicou os livros, “Letras da Minha Emoção” (2006) e “Poesias para me sentir viva” (2008), ambos com relevante repercussão social. Muitas de suas poesias já viraram músicas por meio de parcerias com o blues man Nuno Mindelis e com os compositores mineiros Elder Costa e Rafael Toledo.
A Ituveravense
Leide Consuelo Quereza Moreira, 71 anos, é casada com César Sandoval Moreira (in memoriam), e sãos seus filhos César Sandoval Moreira Júnior, Leide Consuelo Quereza Moreira Jacob e Cristiano Cesar Quereza Moreira e netos Gabriel Moreira Jacob, Pedro Moreira Jacob e Diego Gomes Moreira.
Ela é filha de Elíphio Peres Quireza e Maria Alves Quireza (ambos falcidos), e são seus irmãos José Peres Quereza (in memoriam), Constantino Peres Quereza (in memoriam), Mauro Peres Quireza, Lilia Teresinha Quereza Jacob, Lélia Quireza Crozaro, Leda Peres Quireza Pereira e Leila do Carmo Peres Pinheiro.
