Fahrenheit 451 e o risco dos livros queimados

Fahrenheit 451, clássico escrito por Ray Bradbury, fala sobre um futuro distópico em que a ascensão de governos totalitários fez com que se tornasse crime o fato de as pessoas terem livros. Na história, sempre que encontrados, eles são queimados, algumas vezes em grandes fogueiras junto aos seus donos.
O motivo? Os livros levam as pessoas a desenvolver o senso crítico, questionar o sistema e ter ideias capazes de derrubar qualquer ditadura. Publicada pela primeira vez no ano de 1953, a obra faz claros paralelos com o que o mundo vivenciava poucos anos antes, quando os nazistas cometeram inúmeras barbaridades, dentre elas, a queima de livros.
Queimar livros também foi uma prática comum por parte da Igreja Católica, sobretudo durante a Inquisição, e de governos militares em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil durante a ditadura.
No livro, existem outras táticas para evitar que as pessoas reflitam. Uma delas é a exigência de que as pessoas sempre dirijam acima de 60 quilômetros por hora, mesmo dentro das cidades. Assim precisam ficar concentradas no trânsito e não têm tempo para refletir.
Em suas casas, são entretidas por telões gigantes, com programação fútil durante o dia todo. Nas ruas, os bombeiros (no livro, ironicamente são os bombeiros que promovem as queimas dos livros) fazem patrulhamento para evitar que as pessoas se encontrem para conversar.
E é justamente isso que torna Fahrenheit 451 uma obra tão assustadora. Ao longo da história da humanidade, muitas vezes homens e mulheres se depararam com governos combatendo o conhecimento e o acesso à informação. Aconteceu no passado, acontece no presente (a Coreia do Norte é um grande exemplo) e certamente acontecerá no futuro.
E talvez esse futuro distópico descrito por Ray Bradbury não demore a se tornar realidade. Diversas partes do mundo vivem momentos de extremo conservadorismo, inclusive com apoio ao militarismo em algumas delas.
Em Fahrenheit 451, o chefe dos bombeiros explica que o discurso que promove a queima dos livros e o combate ao conhecimento apareceu de maneira rasa, com comentários extremistas, agressivos e com pouco ou nenhum embasamento científico/acadêmico.
No entanto, eram ideias fáceis de absorver sem precisar pensar muito, além de serem discursos que propõem soluções fáceis para temas complexos, o que evidentemente é bonito na teoria, mas não funciona de maneira tão simples na prática. Tudo isso parece muito com o discurso de um certo candidato à presidência do Brasil em 2018, não é? Fahrenheit 451 é um mito que não podemos permitir que se torne realidade.

 

Bruno da Silva Inácio é jornalista da Tribuna de Ituverava, especialista em Gestão Cultural, Literatura Contemporânea e em Cultura e Literatura. Cursa pós-graduação em Filosofia e Direitos Humanos e em Política e Sociedade. É autor dos livros “Gula, Ira e Todo o Resto”, “Coincidências Arquitetadas” e “Devaneios e alucinações”, além de ter participado de diversas obras impressas e digitais. É colaborador dos sites Obvious e Superela e responsável pela página “O mundo na minha xícara de café”.