Luis Buñuel Portelés: o cineasta dos absurdos, subjetivos e das metáforas

O cineasta Luis Buñuel dirigindo uma cena

Após uma luxuosa festa em uma mansão, os convidados simplesmente não conseguem deixar a sala de jantar.
À medida que as horas passam, as tentativas desesperadas de sair do local dão espaço ao desespero e à ruína. Pouco a pouco toda a arrogância da elite é substituída pela verdade mais profunda de cada personagem.
Essa premissa – que flerta com o surrealismo – é o ponto de partida de “O anjo exterminador”, filme de 1962 dirigido por Luis Buñuel.
É dele também os clássicos “Um cão andaluz” (co-dirigido por Salvador Dalí), “A idade do ouro”, “A bela da tarde” e “O discreto charme da burguesia”.
Em cada um desses filmes, o cineasta aborda questões muitas vezes presentes na teoria e na prática psicanalítica, como o desejo, a pulsão e o universo onírico.
Aborda, também, algo que se fosse transportado para outras artes poderia ser definido como teatro do absurdo ou realismo fantástico (no caso da literatura).
Isso porque elementos pouco plausíveis, apresentados numa realidade até então verossímil, ocupam lugares de destaque em suas narrativas.
É o caso de pessoas que, por mais que tentem, não conseguem deixar uma sala. Ou, em “O discreto charme da burguesia”, de um jantar que, em determinado momento, se torna uma apresentação teatral – com direito à plateia e tudo.
Esses elementos fantásticos, contudo, são fundamentais para aquilo que Buñuel busca nos mostrar: uma situação absurda tem potencial para revelar quem as pessoas são de fato.
No Brasil do século XXI, as situações absurdas (cada vez mais cotidianas) não precisam chegar aos extremos de Buñuel.
Não é necessário ficar preso em uma sala por alguma força incompreensível ou assistir uma mão sem corpo se mover sozinha. Basta ligar a TV, ler um jornal ou olhar para o lado.
Buñuel é o artista do desejo. É o cineasta dos absurdos, do subjetivo e das metáforas. É o responsável por mostrar, por meio de sua obra, que há na elite uma ganância violenta e prepotente ansiosa para sair. E por aqui, ela saiu.

Bruno da Silva Inácio é jornalista, mestre em Comunicação e pós-graduado em Literatura Contemporânea, Política e Sociedade e Cultura e Literatura. Atualmente cursa quatro especializações (Cinema, Teoria Psicanalítica, Antropologia e Gestão da Comunicação) e reside em Uberlândia, onde trabalha como assessor de imprensa da Prefeitura.
É autor dos livros “Gula, Ira e Todo o Resto” e “Devaneios e alucinações”, participante de outras quinze obras literárias e colaborador da Tribuna de Ituverava e dos sites Obvious, Provocações Filosóficas e Tenho Mais Discos que Amigos.
Também manteve, entre 2015 e 2019, a página “O mundo na minha xícara de café”, que chegou a contar com 250 mil seguidores no Facebook.