‘Maior Abandonado’, do Barão Vermelho, completa 40 anos

A banda de rock brasileira, Barão Vermelho e Ezequiel Neves

Era lançado há 40 anos, em setembro de 1984, Maior Abandonado, terceiro álbum do Barão Vermelho e o último de estúdio a contar com Cazuza nos vocais.
Com hits como Bete Balanço, Por que a gente é assim? e a própria faixa título, o disco foi gravado em julho do mesmo ano e se tornou um dos principais acontecimentos do rock nacional da década de 1980. Não por acaso, alcançou a marca de 100 mil cópias vendidas seis meses depois do lançamento.
Maior Abandonado apresentou uma nova sonoridade da banda, dessa vez um pouco mais distante do rock de garagem dos dois trabalhos anteriores.
“Esse LP foi o primeiro produzido só por nós e pelo Ezequiel Neves. Por isso, saiu exatamente do jeito que a gente queria, com as músicas e arranjos escolhidos por nós. Sabemos muito bem o que nosso público espera, pois testamos sempre as músicas ao vivo antes de gravá-las”, disse Frejat, em depoimento publicado no livro Cazuza: Preciso dizer que te amo – Todas as letras do poeta (Globo).

Parceria
A parceria entre o guitarrista e Cazuza estava a todo o vapor nessa época e deu origem a praticamente todas as canções do álbum. Aliás, foi somente nesse terceiro disco que a primeira música que fizeram juntos finalmente foi lançada: Nós.
“No final do nosso primeiro ensaio, eu e Frejat nos olhamos na hora de ir embora e perguntei ‘Qual é o teu telefone?’. Trocamos os números. Liguei: Frejat falou logo: ‘Vem pra cá!’. Fui na casa dele com uma letra e conversamos sobre o que cada um gostava de música”.
“Lembro que entre as preferências dele estavam Led Zeppelin, Bob Dylan. Ele adorava Bob Dylan. E eu disse as minhas: ‘Dalva de Oliveira, Maysa’. E senti que ele era inteligente, não era um garotão, um surfário desses. E ele me respeitando muito. Dia seguinte, ele ligou: ‘Vem pra cá!’. Cheguei, e a melodia de Nós estava pronta. Nossa primeira parceria”, contou Cazuza, em depoimento publicado no mesmo livro.
Parcerias
Já entre os integrantes Dé Palmeira (baixo), Maurício Barros (teclados) e Guto Goffi (bateria), apenas Barros aparece como compositor em Maior Abandonado e, mesmo assim, em apenas uma música, Baby suporte, ao lado de Cazuza, Ezequiel Neves e Pequinho.
Por outro lado, outras pessoas se uniram a Cazuza e a Frejat nas composições. Além dos já citados Pequinho (Baby suporte) e Ezequiel Neves (Baby suporte, Não amo ninguém e Por que a gente é assim?), a cantora Denise Barroso é creditada como uma das compositoras de Milagres.

Quem tem um sonho não dança
Bete balanço, que não demorou a explodir nas rádios, foi lançada um pouco antes de o disco sair, como single. A canção foi encomendada à banda para o filme homônimo dirigido por Lael Rodrigues e estrelado por Débora Bloch.
A música ganhou diversas regravações, como as de Tarcio (1984), Delirium (1984), Lulu Santos (1995), Paulo Ricardo (1995) e Cássia Eller (1997).
E não foi a única do álbum a se interpretada por outros artistas. Para ficar em dois exemplos, Por que a gente é assim? foi regravada por Ney Matogrosso (1984) e Cássia Eller (1997), enquanto Milagres ganhou versões de Elza Soares (1985) e Adriana Calcanhoto (1992).
Assim, com um álbum capaz de sintetizar os anseios de toda uma geração, Maior Abandonado mudou para sempre a história do rock brasileiro e segue, ainda hoje, como indispensável para compreender os sonhos e as angústias da juventude dos anos 80.
O disco imortalizou canções e mostrou, para quem ainda duvidada, toda a técnica e maturidade de cinco jovens apaixonados por música. Hoje, 40 anos após seu lançamento, o álbum continua com muito a dizer. Afinal, como declarou Cazuza na época do lançamento: “99,9% da população é, ou já foi, algum dia, maior abandonado”.

Bruno da Silva Inácio é jornalista, mestre em Comunicação e pós-graduado em Literatura Contemporânea, Política e Sociedade e Cultura e Literatura. Atualmente cursa quatro especializações (Cinema, Teoria Psicanalítica, Antropologia e Gestão da Comunicação) e reside em Uberlândia, onde trabalha como assessor de imprensa da Prefeitura.
É autor dos livros “Gula, Ira e Todo o Resto” e “Devaneios e alucinações”, participante de outras quinze obras literárias e colaborador da Tribuna de Ituverava e dos sites Obvious, Provocações Filosóficas e Tenho Mais Discos que Amigos.
Também manteve, entre 2015 e 2019, a página “O mundo na minha xícara de café”, que chegou a contar com 250 mil seguidores no Facebook.