Pandemia mudou a forma de as pessoas se cumprimentarem

Neurocientista Idan Frumin explica os motivos que tornam o aperto de mão tão importante

Muitos hábitos adotados pela população sofreram mudanças por conta da pandemia do covid-19

Em meio à pandemia do novo coronavírus, muitos hábitos adotados pela população sofreram mudanças, como sair de casa, encontrar amigos, dar beijos e abraços. Em meio a isso, a revista Veja publicou, nesta semana, uma entrevista com o Idan Frumin, que é neurocientista da Weizmann Institute of Science e autor de um estudo de 2015 sobre a importância social de um gesto especialmente humano: o aperto de mãos. Confira:

Por que o ser humano tem o costume de apertas as mãos uns dos outros?
O senso comum afirma que fazemos isso para sinalizar ao outro que não estamos portando armas. Não acredito nisso. A teoria que eu apoio é a de que usamos esse gesto para obter uma amostra da informação olfatória do outro com quem socializamos. É um meio socialmente aceitável de obter dicas sobre o odor corporal de outros indivíduos que precisamos analisar.

Qual a importância do olfato para a socialização humana?
O homem é uma criatura muito social. Dependemos do senso de olfato para tomar algumas decisões importantes, como selecionar com quem queremos ‘cruzar’ ou determinar o caráter do outro. Precisamos saber quem é ameaçador e quem não. No entanto, fazemos tudo isso de forma subconsciente, instintiva.

Como a informação olfativa vai da mão ao nariz, para que a captemos?
Seres humanos têm o costume de tocar o rosto de modo recorrente. É assim que a assinatura olfatória do outro, que obtemos a partir do toque de mãos, chega até o nariz. Então, a interpretamos, instintivamente.

Somos os únicos animais a apertar as mãos do outro?
Desse modo específico, acredito que sim. Mas outros animais fazem coisas parecidas. Cachorros, por exemplo, obtêm a informação olfatória que buscam por meio das glândulas anais do outro cão.
Vale lembrar que nem todas as culturas humanas usam o aperto de mãos. Os esquimós, por exemplo, que vivem em locais onde deixar as mãos quentes e abrigadas é essencial, esfregam os narizes uns nos outros com o mesmo objetivo.

Como a pandemia do coronavírus afeta a socialização entre pessoas?

Com o coronavírus e a diminuição do contato físico, perdemos boa parte da informação da qual precisamos para inspecionar o outro. Um bom exemplo é o próprio toque constante do rosto e a ação automática de cheirar as próprias mãos.
A intenção, claro, é a de que, ao não tocar o próprio rosto, diminuamos a disseminação de patógenos. Mas esse toque é psicologicamente necessário. Evitá-lo pode, em casos extremos, levar à introversão e à depressão, conforme apontam alguns estudos.

Evite apertos de mão, beijinhos e abraços!

O Ministério da Saúde recomendou evitar ao máximo o toque no outro. Aperto de mãos, beijinhos e abraços podem esperar a pandemia passar. O ideal é cumprimentar com saudações à distância, com um ‘namastê’, um cumprimento oriental ou com o velho e bom sorriso. Além de se proteger de contrair o coronavírus, você protege a outra pessoa.