Segundo a Orplana, focos em SP e outras regiões do país prejudicaram mais de 100 mil hectares de produção. Consultoria especializada em agronegócio projeta moagem 10% menor com efeitos na produção de açúcar e etanol.
Os incêndios que atingiram principalmente o interior de São Paulo e outras regiões do país entre o fim de agosto e o início de setembro devem causar um prejuízo de pelo menos R$ 800 milhões, estima a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), que representa mais de 12 mil canavieiros brasileiros e tem sede em Ribeirão Preto (SP).
A projeção foi divulgada nesta quinta-feira (5) e é mais do que o dobro da que tinha sido divulgada anteriormente, de R$ 350 milhões.
De acordo com a organização, ao todo mais de 2,3 mil focos de incêndios destruíram mais de 100 mil hectares de canaviais e áreas de rebrota, o que prejudica não só a atual safra (veja as projeções de uma consultoria especializada mais abaixo), quanto a próxima.
“Vale lembrar que a quantidade de hectares queimados não contabiliza áreas de APP, reserva legal e pastagens”, reiterou a Orplana.
Projeção menor de safra
O número elevado de incêndios nas lavouras também levou a Datagro, consultoria especializada em agronegócio, a revisar para baixo suas projeções para a safra 2024/2025.
A moagem, então prevista para 602 milhões de toneladas no Centro-Sul do país, caiu para 593 milhões, quase 10% menos do que o realizado no ciclo 2023/24.
Em nota divulgada esta semana, a consultoria explicou que, ainda que os impactos dos incêndios estejam sendo contabilizados, a extensão territorial afetada já indica um desafio para a colheita, principalmente porque as usinas precisam moer a cana que foi queimada em até 48 horas para evitar perdas ainda maiores na qualidade da matéria-prima.
Os impactos também devem ser percebidos no rendimento industrial e nos volumes de produção de etanol e açúcar. No caso do açúcar, por exemplo, as usinas devem produzir 39,30 milhões de toneladas e não mais as mais de 40 milhões de toneladas esperadas anteriormente.
Onda de incêndios
Os cinco principais estados produtores de cana do Centro-Sul acumulam, de janeiro até esta quinta-feira (5), 28,2 mil focos de incêndio, segundo números do Banco de Dados de Queimadas (BDQueimadas) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O resultado, referente a Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo, é mais do que 100 vezes maior do que o registrado um ano antes, com apenas 270 ocorrências contabilizadas pelos satélites de referência do instituto.
Os incêndios ocorrem em meio a uma estiagem prolongada histórica em algumas regiões, com seguidas ondas de calor e temperaturas acima da média e chamas provocadas por ação humana. No estado de São Paulo, por exemplo, ao menos 12 prisões tinham sido confirmadas.
O governo paulista criou um gabinete de crise para combater o fogo, colocou dezenas de municípios em estado de alerta máximo e obteve apoio de aeronaves das Forças Armadas, no fim de agosto.
Mesmo assim, os focos continuam a se alastrar, colocar vidas em risco, causar interdições em rodovias e deixar as cidades tomadas pela fumaça e com níveis de qualidade do ar extremamente críticos.
No auge dos incêndios, no fim de agosto, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) chegou a contabilizar uma concentração de 1 mil microgramas de partículas inaláveis (MP.10) por metro cúbico em Ribeirão Preto, importante região canavieira que é uma das mais afetadas pelo tempo seco e pelo calor.
Nos parâmetros da companhia, o valor representa quatro vezes mais do que já seria considerado péssimo, a pior classificação existente.
Fonte: https://g1.globo.com/