Lilian Nauyta Vidal Pistori comenta sobre Educação e desafios enfrentados pelo município
A entrevistada do especial da Tribuna de Ituverava “Ituverava: 70 anos de desenvolvimento Sustentável”, nesta semana, é a professora Lilian Nauyta Vidal Pistori, um dos grandes nomes da Educação no município. Durante a entrevista, ela fala sobre sua área de atuação e sobre Ituverava do passado, presente e futuro. Confira:
Apresentação
Meu nome é Lilian Nauyta Vidal Pistori. Nasci em Igarapava-SP em 9 de novembro de 1946 e sou filha de Albino Fraguas Vidal e Maria Mendonça Vidal (in memoriam). Casei em 05 de setembro de 1970 com Gercino Pistori, e temos o filho Tadeu Aliader (in memoriam). São meus irmãos Lúcia Rosa, Marcos Aurélio, Márcio Américo, Leila Maria e Lucy Ângela (in memoriam) e Mauro Aliader Mendonça Vidal. Uma família de professores em sua maioria, com uma convivência de muito amor, união, amizade e respeito..
Estudei na escola “Professor Antônio Josino de Andrade” que, na época funcionava ao lado do Banco do Brasil, no centro da cidade, local em que fiz a pré-escola e o ginásio. Depois fiz o ensino médio correspondente no Colégio Nossa Senhora do Carmo e curso de Técnico em Contabilidade, na Escola de Comércio, do Sr. Nestor Alves Ferreira.
Nessa época, meu esposo Gercino Pistori também estudava nesta Escola fazendo o mesmo curso. Em seguida, ele cursou Direito em Uberaba, nas Faculdades Integradas de Uberaba.
Cursei, em seguida, o Magistério na Escola “Capitão Antônio Justino Falleiros’, e depois, o urso de Matemática na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, na Fundação Educacional de Ituverava, em uma das primeiras turmas, com licenciatura plena. Depois cursei pedagogia”.
Vida profissional
“Iniciei minha vida profissional aos 16 anos trabalhando no comércio. Muitos se lembram da Agência Willys, Sodima – Máquinas Agrícolas, Banco Comércio e Industria – o Comind e o Banespa, quando ingressei por concurso em 1970, no cargo de escriturária. A partir de 1.972, iniciei na Área da Educação, na disciplina Técnicas Comerciais, um período em que a Escola era denominada Escola Padrão e tínhamos as Práticas Educativas: Técnicas Industriais, Técnicas Agrícolas e Técnicas Comerciais, aproveitando assim o curso de Contabilidade. Também fiz curso em licenciatura curta em São Paulo, CTPGIP – Centro de Treinamento de Professores dos Ginásios Pluricurriculares e Polivalentes do Estado, na USP, de Técnicas Comerciais por meio de um convênio entre a Secretária da Educação do Estado e o MEC – Ministério da Educação e Cultura. Foi uma excelente oportunidade, porque, em oito meses, consegui concluir licenciatura curta, quando retornei para Ituverava.
Nessa época já estava casada e comecei a lecionar, quando adquiri o gosto pela Educação. O meu sonho era ser professora de Educação Física, mas em Ituverava não tinha esse curso e meus pais não podiam me manter em uma Faculdade em outra cidade. Então, já na área da Educação, aproveitei que a Fundação Educacional de Ituverava havia criado o curso de Matemática, em 1975, optei por fazê-lo. E essa é uma das coisas que mais agradeço na vida, pois a FEI me deu mais uma oportunidade de crescer profissionalmente, lecionando em Ituverava e região”.
Outras cidades
“Também tive a oportunidade de lecionar nas cidades de Miguelópolis, Guará, Pioneiros, Aramina, Igarapava, Buritizal, nas escolas de Ituverava “Antônio Josino de Andrade”, ‘Humberto França’ e ‘Antônio Justino Falleiros”, “Fabiano Alves de Freitas”, Jardim Guanabara” “Mariana Grellet Seixas”. Naquela época tínhamos de garantir uma escola para lecionar no ano seguinte, e quando me efetivei em Matemática, no primeiro cargo por concurso público, fui para Miguelópolis na Escola ‘Capitão Emídio’, e mais tarde, consegui trazer o meu cargo para a Escola “Antônio Justino Falleiros” completando na Escola “Humberto França”. No segundo concurso público assumi o cargo, em 2000, na Escola “Mariana Grellet Seixas”, em Aparecida do Salto, que na época era do Estado. Em 2004, a Escola “Grellet” passou para o município e meu cargo foi para Morro Agudo e São José da Bela Vista por remoção. Mas tive a sorte das escolas públicas serem municipalizadas e ser aceita pelas administrações públicas da época ficar aqui no município até a presente data.
Aposentadoria
“Hoje estou encerrando a minha carreira profissional, com a aposentadoria no segundo cargo de Matemática do Estado, que saiu dia 3 de janeiro deste ano no Diário Oficial. Encerro minha trajetória profissional atuando na Escola ‘Jardim Guanabara’, destacando o melhor período como diretora, por dez anos, da Escola ‘Maria Eudália Coimbra Amendola’, nome dado a área institucional, um projeto meu quando vereadora. Fui convidada pelo então prefeito dr. Mário Takayoshi Matsubara a fazer parte de sua equipe, sendo a secretária da Educação a professora Maria Sara Abdala Martins e assessora a professora Rosa Maria Alves.
Foi muito gratificante ser diretora neste período, pois cumprimos ali o nosso papel como educadora com uma gestão administrativa voltada para os jovens e crianças.
Melhor época
“A melhor época da Educação foi nas décadas de 80 e 90. Hoje deixa um pouco a desejar em relação à escola pública. As inovações tecnológicas chegaram, mudando muita coisa. As crianças avançam muito nesse campo porque tem oportunidades em casa e não na escola.
Educação
Pela inovação tecnológica, o governo tinha que pensar em atender as crianças por igualdade, pois como sabemos, muitos tem celular e outros não. No lugar de material tradicional, como livro didático, caderno, lápis, borracha e caneta, pensar em um meio de oferecer também um celular para cada aluno, com os aplicativos das disciplinas, onde o professor trabalharia através do celular, em salas digitais e salas de computadores. Assim, o aluno poderia aprender através do seu próprio celular e o professor continuaria cobrando uma avaliação por escrito, não havendo desperdício, principalmente em relação aos livros didáticos. Isso seria após o terceiro ano, depois de alfabetizados.
Hoje qualquer assunto que o professor aborda o aluno tem condições de pesquisar. Então, a escola e a educação também teriam que acompanhar essa evolução, que facilitaria muito o trabalho e o aprendizado.
Ainda em relação à Educação o Governo propõe reformular o Programa Bolsa Família, destaque no Jornal “O Estado de São Paulo,” desta semana. Acho muito válida a proposta principalmente no que diz respeito a valorizar a “meritocracia”, um prêmio para crianças e jovens até 21 anos que se destacarem em Olimpíadas do Conhecimento e também no Esporte. Hoje tempos vários projetos, programas e concursos já desenvolvidos pela escola, como o OBMEP, o OBA, redação, campeonatos escolares e outros que precisam ser valorizados com a participação de todas as escolas.
Quero destacar que tivemos oportunidade, na escola “Justino”, nos anos 80, classificar uma aluna até a terceira fase da OBMEP, indo a São Paulo e destacar o concurso “Cartaz sobre a Paz” que o Lions Clube Internacional promove através dos Lions Clubes, premiando os alunos classificados das escolas do município. Acredito que a reformulação com seus critérios bem definidos trará com certeza mais responsabilidade da família. Hoje a ausência da família na escola pública compromete o aprendizado do aluno.
Fundação Educacional de Ituverava
“Particularmente, para mim, a Fundação Educacional de Ituverava foi um ponto fundamental em minha vida, pois, como já citei, deu-me a oportunidade de cursar Matemática em uma de suas primeiras turmas, tendo César Luiz Mendonça como um dos meus colegas de turma, pessoa que admiro muito.
Agradeço muito à FEI por tudo que trouxe na área de Educação para Ituverava. Parabenizo todas as diretorias que passaram pela Instituição de Ensino, porque foi o ponto alto de crescimento da cidade, juntamente com a FAFRAM que dá oportunidade a muitos jovens de Ituverava e da região para que cresçam profissionalmente. Além da qualidade de ensino, a FEI é um marco no desenvolvimento econômico e cultural de Ituverava.
Agricultura
“As áreas da agricultura e do comércio contribuíram para o desenvolvimento da cidade e têm avançado muito, inclusive acompanhando as novas tecnologias. Faltam cursos técnicos em áreas no sentido de oferecimento de oportunidades aos jovens que querem trabalhar com cursos práticos de orientação e capacitação, pois hoje temos a inovação tecnológica, despertando o interesse para esses setores. Eu, por exemplo, tive a oportunidade de fazer um curso de datilografia em Ribeirão Preto. Naquela época, o curso de datilografia era fundamental para entrar no mercado de trabalho, e sou muito grata a minha avó Nauyta Ferreira de Mendonça (in memoriam) por essa oportunidade.
Entendo que os cursos de capacitação seriam uma ferramenta para crescer as microempresas de Ituverava, pois iriam contribuir para a valorização dos jovens que não precisariam sair da cidade para trabalhar.
Distrito Industrial
Há anos se tem falado que nós precisamos ter um Distrito Industrial e vejo que as cidades vizinhas já os têm, e às vezes, até mesmo mais de um. Para ter uma área industrial não precisa pensar em grandes empresas para Ituverava, pois as nossas grandes e microempresas poderiam crescer através dessa oportunidade. Ituverava ficou parada no tempo nesse sentido, tem campo para crescer, pois temos microempresários que estão muito bem, que cresceram pelo seu trabalho e dedicação. O que está faltando é um pouco de empenho politico administrativo para crescimento industrial em Ituverava.
Pedágio
“O pedágio entre Ituverava e Guará trouxe sim, certa dificuldade para o pessoal ir e vir, prejudicando em parte nosso comércio, pois pesa um pouco no orçamento. A cidade perdeu um pouco com isso.
Saúde em Ituverava
Saúde é uma área que atende bem a comunidade e região. É preciso uma melhor programação e organização no sentido do cronograma de atendimento, aplicando as inovações tecnológicas para maior satisfação do cidadão, pois as pessoas ficam muito tempo esperando e precisam chegar com muita antecedência à consulta.
Pelo que temos visto através das notícias de jornais e amigos o atendimento da Santa Casa, Hospital São Jorge e o AME está excelente. Agora ainda temos uma equipe de estagiários de fora, de outros países, futuros médicos que estão fazendo estágio em Ituverava. Já tive a oportunidade de acompanhar pacientes e percebemos que o atendimento é muito bom na área da Saúde, é satisfatório.
Reeleição
Politicamente falando, em termos de reeleição, acho que deveria ser um mandato só, ou intercalado, pois, um período de quatro anos é suficiente. Seria importante uma nova equipe, com outras ideias, novas visões e análise sobre os problemas políticos, econômicos e sociais da cidade. No caso da reeleição se mantém a mesma equipe, os mesmos profissionais e, consequentemente, os mesmos erros e acertos, por isso acho que deveria mudar. Os candidatos deveriam visar melhorias e acompanhar o que está acontecendo na cidade. Ituverava tem projetos, tem ótimas leis para melhorar o município, no sentido da cidade e da sua infraestrutura.
Outros problemas
Existem leis para terrenos baldios, para capina e para calçadas, construções que, inclusive, muitas estão irregulares em Ituverava. Os proprietários não estão respeitando e devem ser intimidados para que cumpram a lei. Há ainda a questão do mato em vários pontos da cidade, bem como diversos problemas no trânsito. Alguma atitude precisa ser tomada e as leis precisam ser cumpridas.
No trânsito há ciclistas andando na contramão, nas calçadas, motociclistas e motoristas que não respeitam os sinais de trânsito, locais de estacionamento, principalmente de idosos e deficientes físicos. Muitos acidentes têm acontecido na cidade. Seria muito bom que voltasse o emplacamento das bicicletas e orientações às crianças e jovens para que não sejam punidos quando adultos com multas por intransigências no trânsito. Na época em que o Dr. Ecyr Alves Ferreira era prefeito, nossas calçadas na avenida e travessas existem até hoje, tinham um padrão e eram todas de pisos antiderrapantes. Era lei, algo que funcionava muito bem. Por isso, os administradores públicos e suas equipes deveriam atentar para todas essas questões. São pontos básicos de uma cidade. Mas o que vemos é que há uma necessidade de se cuidar melhor também da coleta do lixo, entulhos e limpeza dos bueiros da cidade, com conscientização mais direta da população e do seu papel e obrigação como cidadão.
Política
Sou política até hoje. Gosto de conversar sobre vários assuntos e de responder perguntas. Quem me influenciou muito nessa área foi o Dr. Ecyr Alves Ferreira, quando foi candidato, convidando-me para a campanha, e me engajei no partido, o MDB. Gostei muito da experiência. Acredito ter feito um bom trabalho, eleita, por duas vezes alternadas (em 1992 e 2000), com muito apoio dos meus familiares, amigos e conhecidos. Continuei por um bom tempo participando das reuniões políticas, e gostaria de voltar.
Homenagens
“Ao longo desses anos, recebi muitas homenagens que me marcaram, como dois título da Justiça Eleitoral pelas gestões em que fui vereadora; título de Professor do Ano, em 1975, pela escola “Humberto França”, de autoria do vereador da época Ary Barbosa, que, inclusive, poderia voltar a ser concedido pela Câmara Municipal (minha irmã Lúcia Rosa Vidal também recebeu este título pelo COC), o Título de Honra ao Mérito, por meio do então vereador Luiz Araújo, no ano de 2004.
Todas essas homenagens e outras me marcaram muito, assim como os relacionamentos com as pessoas, por meio de cargos que ocupei como conselheira dos Conselhos Municipais (Educação, Assistência Social, Direitos da Criança e Adolescente). Como presidente, fizemos um trabalho muito bom, primeira campanha de arrecadação de contribuição de pessoas físicas e jurídicas para o CMDCA.
Ituverava
“Eu acho que em Ituverava os seus administradores públicos e políticos precisam ter uma visão, ter uma missão. Além de crescer, é preciso continuar trazendo desenvolvimento econômico e Sociocultural visando o bem-estar de todos. Precisamos de atitudes positivas, concretas e um organograma de ações. Precisamos ter harmonia, compreensão, pois quem vai pensar em administrar tem que pensar no que realmente vai fazer e no resultado que vai obter. Ituverava tem tudo para melhorar, principalmente no seu visual, na sua infraestrutura e na apresentação política e social.
Em relação ao turismo, fala-se muito que temos que desenvolver o turismo no Parque Recreio. Na minha época de infância nós íamos muito ao local, fazíamos piqueniques, passeios em família e pelas escolas. Havia um restaurante que recebia bem as pessoas da cidade e visitantes. O Gercino, meu esposo, uma vez levou seus amigos de Faculdade de Uberaba e todos se encantaram com o local. Temos que conservar e investir no Parque Recreio para que ele volte a ser um grande atrativo para Ituverava.
Área social
“Na área social, Ituverava é exemplo. Nós, por exemplo, estamos no Lions Clube desde 1976, a convite do professor Antonino Amêndola e da Dona Dalinha [Maria Eudália Coimbra Amêndola] (in memorian). Desde então, temos acompanhado os eventos do Abrigo de Idosos. No Roupeiro de Santa Rita estou desde 1974. É uma entidade de assistência social que visa atender famílias carentes, mães gestantes e crianças nos primeiros anos de vida. A entidade, infelizmente, esteve com suas atividades paradas por motivos particulares de algumas sócias e retornaremos neste ano de 2020, em nossa sala própria, inclusive, com parceria da Pastoral da Criança.
Estou atualmente como representante regional da Apampesp, procurando atender os professores aposentados de Ituverava e região. Sempre acreditei que tudo que fizermos em prol de crianças, jovens e aposentados é bem-vindo.
Também temos outras entidades que estão voltadas para a criança, jovem e idoso, como o Abrigo de Idosos, a Apae , a Creche Nossa Senhora do Carmo, o Grupo ASA, os Vicentinos, o IVVI, onde também fiz parte da diretoria, entre outras. São entidades que admiro muito, inclusive, seus diretores, equipe de trabalho e associados, pois desenvolvem um trabalho humano, voltado realmente para as necessidades dos menos favorecidos.
Tribuna de Ituverava
“Fico muito honrada por participar desse projeto dos 70 anos da Tribuna de Ituverava. Conheci muito bem o senhor Adhemar Cassiano e a dona Guiomar Alves Ferreira Cassiano, e sempre tivemos um relacionamento muito bom em termos de convivência social e política.
Admiro muito o trabalho do jornal, sua equipe de profissionais. Só tenho a parabenizar a Tribuna de Ituverava que desenvolve um trabalho muito bom junto à comunidade.
Considerações finais
Sou grata a Deus, aos meus familiares e a todos que proporcionaram as oportunidades em minha vida, no meu trabalho, nas relações de amizades, o estar em família, o reunir com amigos, o participar de Entidades e de seus Eventos Beneficentes, o que me faz sentir uma pessoa completa, mais humana e feliz. Agradeço a José Luis Alves Cassiano e familiares o convite para participar deste momento único comemorando 70 Anos do Jornal “Tribuna de Ituverava” – deixando esta mensagem:
“Deixe o seu melhor por onde passar, porque talvez um dia você pode voltar”.