Segundo Grazyella Eduarda da Cruz, o cenário de incertezas provoca no ser humano as mais íntimas e intensas emoções
A pandemia da Covid-19 mudou totalmente o cotidiano das pessoas. O uso de máscara de proteção e álcool em gel, o distanciamento social e o home office agora fazem parte do dia a dia da população mundial. No entanto, as mudanças vão muito além disso. Há, por exemplo, as incertezas causadas pelo impacto econômico da pandemia e o aumento no número de casos de depressão e ansiedade.
Segundo a psicóloga Grazyella Eduarda da Cruz, o momento é bastante delicado. “O novo cenário que a pandemia nos oferece é algo cheio de incertezas e limitações, o que aguça no ser humano as mais íntimas e intensas emoções”, afirma.
“Enfrentar uma nova realidade que altera toda uma rotina, aspectos socioeconômicos e nos aproxima de algo tão delicado e difícil de lidar ainda hoje pela sociedade – que é a morte – faz com que encaremos tudo aquilo que foge ao nosso controle, causando uma sensação de impotência e medo”, ressalta.
Crises
Segundo ela, muitas pessoas passaram a apresentar crises agudas de ansiedade, pânico, medo da morte, angústia, sensação de abandono e desamparo, além de sintomas psicológicos da Covid-19.
“As crianças e adolescentes são afetadas em seu desenvolvimento escolar e na socialização, também em suas relações afetivas com pais ou responsáveis e familiares mais próximos. Já os adultos e idosos, diretamente na vida profissional e financeira e nos momentos sociais e de liberdade”, destaca.
“O estresse emocional diante das mudanças, a privação do direito de ir e vir e o impacto econômico que afeta de diferentes modos e perspectivas devido, sobretudo, à desigualdade social, alteram a saúde emocional de modo geral”, observa a psicóloga.
Busca por um profissional
O primeiro passo ao notar os primeiros sinais de ansiedade, irritação, insônia, agitação, tristeza e desesperança é, de acordo com Grazyella, acolher de forma respeitosa essas emoções e observá-las. “Caso se prolonguem, se expandam e passem a afetar a funcionalidade e os aspectos comuns do dia a dia, o indicado é buscar por um profissional”, orienta.
“Importante ressaltar que cada ser humano tem suas particularidades e capacidades, portanto, de forma individual se adaptarão ao ambiente e a realidade de diversos modos e também à regulação de suas emoções”, enfatiza.
Mortes por Covid-19 causam grande dor a familiares e amigos
Com o agravamento da situação, a escala do impacto da pandemia sobre os enlutados agora está se tornando aparente, seja a morte por Covid ou por outras causas.
O primeiro grande estudo sobre mudanças relacionadas à pandemia no atendimento ao luto, feito por pesquisadores da Universidade de Cambridge (Reino Unido), descobriu que a mudança para o trabalho remoto ajudou alguns serviços de auxílio a distância a prosperaram, mas muitos profissionais de saúde sentem que não têm capacidade para atender às necessidades das pessoas.
Aqueles cujos entes queridos morreram por Covid-19 tiveram que lidar com a morte súbita e inesperada, mortes em unidades de terapia intensiva, e ver entes queridos sofrendo sintomas graves, incluindo a falta de ar e a agitação no final da vida.
Além disso, as medidas de distanciamento social têm significado restringir as visitas no final da vida, deixando muitas pessoas morrerem sozinhas.
Homenagens à pessoa falecida e procedimentos funerários foram severamente restringidos, com grande impacto sobre os enlutados por todas as causas, não apenas da Covid-19. Todos esses fatores significam que os riscos de respostas de luto complicadas e prolongadas aumentaram durante a pandemia.
Epidemia silenciosa de dor
Durante a pesquisa, 805 pessoas descreveram suas experiências e pontos de vista sobre as mudanças nos cuidados envolvendo o luto, incluindo pessoas que trabalham na comunidade, casos de cuidados e hospitais.
Os depoimentos comprovam que um conjunto grande e “invisível” de pessoas não teve acesso a suporte ou teve suportes restritos, levando a necessidades não atendidas. Segundo profissionais da saúde, “pode haver uma epidemia silenciosa de tristeza que ainda não foi detectada”, destacam.
“Falar sobre o luto continua sendo uma área de desconforto público, e é importante que os profissionais incentivem as pessoas enlutadas a ver o luto como um motivo ‘válido’ para buscar ajuda de serviços de saúde e comunitários, bem como daqueles em quem confiam em suas comunidades”, diz o professor Andy Langford, coautor do estudo
“Foi encorajador ver que muitos entrevistados relataram o desenvolvimento de serviços novos e expandidos, mas é imperativo que eles se tornem sustentáveis no longo prazo. A necessidade não está desaparecendo”, completa.
Psicoterapia e hábitos saudáveis são essenciais nesse momento
Criar uma rotina de bons hábitos também pode contribuir para os cuidados da saúde emocional. Para isso, é essencial praticar atividades físicas, manter uma alimentação saudável, dormir um sono adequado e estreitar laços afetivos.
“Infelizmente trazemos traços de nossa cultura onde a dor e o sofrimento ainda são considerados ‘frescura’ e ‘falta de serviço’, mas precisamos lembrar, principalmente agora, o quanto somos frágeis e vulneráveis”, observa a psicóloga Grazyella Eduarda da Cruz.
“Estamos sujeitos a necessitar de um acolhimento adequado de um profissional capacitado para nos dar suporte e auxiliar no processo de autoconhecimento, através de uma escuta qualificada, que nos ajude a ampliar os sentidos da realidade e de nossas emoções, através da psicoterapia”, pontua.
Busca pelo autoconhecimento
“O primeiro passo para escolher um psicólogo é estar aberto à busca pelo autoconhecimento, se desfazendo de todos os preconceitos ou conceitos equivocados sobre a psicologia. Refletir sobre como o serviço poderá atender suas necessidades e sua importância da qualidade de vida”, diz.
Segundo ela, a busca por um perfil profissional em redes sociais, referência de amigos, jornais e outros meios, pode facilitar. “É importante que o mesmo esteja regularizado no Conselho de Psicologia (CRP), com registro ativo. Também analisar junto ao psicólogo as demandas apresentadas e se estão de acordo com a área de atuação”, lembra.
“A psicoterapia vem se atualizando, e hoje podemos contar também com os atendimentos on-line, o que facilita nesse momento de pandemia. A psicologia se inova, mas o processo permanece o mesmo, sigiloso e livre de julgamentos”, completa Grazyella.
A profissional
Grazyella Eduarda da Cruz, 27 anos, é formada em Psicologia pela Universidade de Uberaba (Uniube). Ela é psicóloga clínica no Ambulatório Médico de Especialidades (AME), psicóloga do internato médico da Santa Casa de Ituverava e psicóloga clínica particular de adolescentes e adultos on-line e presencial na Santa Casa.
Ela é filha de Carlos Eduardo Alves da Cruz e Patrícia Siqueira Rodrigues da Cruz e tem a irmã Gabrielly Rodrigues da Cruz.