Sempre foi dito por especialistas que o café da manhã é a refeição mais importante do dia e a orientação é não deixar de se alimentar nas primeiras horas da manhã. No entanto, muitos adolescentes pulam essa refeição antes de ir para a aula, passando mais de 12 horas entre a última refeição do dia anterior e a primeira do dia seguinte.
Segundo a vice-presidente da Associação Espanhola de Pediatria de Atenção Primária (AEPAP) Teresa Cenarro, jovens com esses comportamentos têm menor desempenho escolar e podem sofrer de irritabilidade e fadiga.
Em 2018, dados do estudo ANIBES, elaborado pela Fundação Espanhola de Nutrição, apontavam que um em cada cinco alunos saía de casa pela manhã sem comer nada. Além disso, 35% das pessoas que tomam café da manhã o fazem de forma inadequada, diz Rosaura Leis, coordenadora do Comitê de Nutrição e Aleitamento Materno da Associação Espanhola de Pediatria (AEP).
Os alimentos que ingerem não fornecem as calorias necessárias ou não são diretamente recomendados para uma alimentação saudável.
Hábito
O hábito de dispensar a primeira refeição do dia é mais prevalente em meninas do que em meninos. Na adolescência, elas sentem mais pressão pela sua imagem nas redes sociais e são mais sensíveis aos conteúdos que consomem na internet, o que as leva a um maior risco de sofrerem com dietas que apresentam déficits nutricionais “com a falsa ideia de que de alguma forma poupam calorias”, como explica Rosaura.
O número de alunos que não se alimentam de manhã aumenta com a idade e os valores mais elevados encontram-se em jovens do ensino médio. Teresa acrescenta que as aulas e o exercício físico que fazem durante o dia, somados ao desgaste causado pela fase de crescimento, fazem com que os adolescentes tenham que consumir mais calorias do que adultos para obter a energia de que precisam.
Estudo
Um estudo de 2021 realizado na Catalunha mostrou o número de meninas e meninos, respectivamente, em 19% e 17%, que não tomavam café da manhã. Esses números aumentam para 30% e 28% se falarmos de pessoas em situação socioeconômica desfavorecida. Nesse sentido, Rosaura Leis e Teresa Cenarro alertam que, além de pular refeições, aumenta também o risco de uma alimentação menos saudável.
O alto preço dos produtos frescos e saudáveis faz com que, muitas vezes, eles tenham que comprar produtos ultraprocessados. “Um pacote de pães ou biscoitos de marca própria é mais barato do que frutas frescas”, explica a pediatra da AEPAP.
O café da manhã ideal
Ana Beatriz Rodríguez, professora de Fisiologia da Universidade da Extremadura, afirma que na Espanha o café da manhã não recebe a importância que merece. A especialista diz que para fazê-lo corretamente, é necessário consumir algum alimento com vitamina C; uma bebida mais forte, como leite de cacau ou café; e carboidratos, o ideal é o pão integral com algum alimento proteico como presunto serrano ou peru e um pouco de azeite.
Embora os centros educacionais façam planos para promover os benefícios de um café da manhã saudável, os especialistas enfatizam a importância de incentivar esses costumes em casa.
Jovens que não tomam café da manhã têm maior risco de obesidade e sobrepeso, além de terem menor qualidade no sono. Isso causa o que é conhecido como “jet lag social”, ou seja, durante a semana os adolescentes acumulam cansaço e no fim de semana não descansam o suficiente para começar a semana seguinte com a energia necessária, o que forma um círculo vicioso.
Além disso, segundo o especialista, existe uma “relação direta” entre déficit crônico de sono e distúrbios nutricionais, já que as pessoas tendem a comer alimentos menos saudáveis, mais gordurosos e com mais carboidratos.