Samantha foi a criança mais amada do Brasil. Mas agora, na vida adulta, navega um mundo no qual está caindo no esquecimento e tem boletos para pagar e filhos para criar. Essa poderia ser a premissa de um drama se não fosse pela determinação cega da protagonista em voltar a ser amada e relevante.
Em Samantha!, série nacional de comédia que estreou na Netflix em 6 de julho, Emanuelle Araújo vive Samantha, uma mulher que, na infância, foi apresentadora e grande sucesso da televisão brasileira. O programa toma como referência personagens como Xuxa e Simony, que foram febre do público infantil na década de 1980.
A ideia de que a terceira produção original do serviço de streaming no Brasil fosse uma comédia veio da própria empresa: segundo a produtora Rita Moraes, programas do gênero fazem sucesso entre os usuários brasileiros, mas havia uma dificuldade em encontrar um produto nacional do tipo que fizesse sentido em outros países.
“A série, para virar universal, tem que ser local”, explica o criador Felipe Braga. “Foi o que fizemos com Samantha!: criamos uma história que parece muito brasileira, mas tem os mesmos personagens do entretenimento da década de 1980 que outros países”, diz.
Esses personagens vão desde as figuras lúdicas que acompanham Samantha em seu programa infantil — com destaque para seu fiel escudeiro, um pacote de cigarros chamado Cigarrinho — até seu ex-marido, Dodói, um jogador de futebol que passou 12 anos na cadeia e tenta retomar sua família e carreira após ser libertado.
Sete episódios
Ao longo dos sete episódios da primeira temporada, cada uma dessas figuras ganha a chance de tentar se encontrar nesse mundo onde a fama varia de acordo com cada nicho e está muito atrelada com a internet.
“As comédias estão sofrendo uma pressão dramática muito grande. Com essa cultura de binge watching, as pessoas estão assistindo tudo de uma vez só, ou seja, acabam criando um desejo de ter arcos dramáticos e personagens mais desenvolvidos”, afirma Braga.
Reunindo isso com o fato de a Netflix ser um serviço global, a produção de Samantha! teve a liberdade de criar um universo diverso tanto em narrativas quanto em representatividade: há discussões sobre feminismo, personagens da comunidade LGBT e o casal principal, Samantha e Dodói, é interracial.
Trata-se de componentes básicos da cultura brasileira, mas que ainda não são representados como deveriam na televisão e no cinema.
Atriz
Braga ainda justifica a escolha da atriz Emanuelle Araújo para o papel principal. “A Samantha é terrível e faz muitas coisas questionáveis. Por isso a atriz tinha que ser muito carismática, a ponto de todos se apaixonarem por ela. Assim poderíamos fazer o que quiséssemos”, explica.
“Se gostamos muito da personagem, ficamos do lado dela, independentemente do que ela faça. A Emanuelle Araújo nos deu isso no primeiro minuto”, destaca.
Sem dúvidas, a escalação da atriz e cantora baiana foi a melhor decisão dos produtores, que apresentaram a ideia de Samantha! para a Netflix em 2016, e concluíram as gravações dos sete episódios da primeira temporada no ano passado.
“A Samantha não quer ser famosa, ela é — pelos menos na cabeça dela”, conta Emanuelle. “Ela foi a criança mais amada do Brasil. Ela não inventou isso, foi realidade por muito tempo. Então ela vive nessa redoma em que acredita que continuou a ser relevante”, diz.
A série ainda conta com participação de alguns nomes populares nos anos 1980, como Gretchen e Luciana Vendramini, na pele de uma apresentadora de reality musical trash, do qual Samantha faz uma ponta como jurada.
