Serviço de streaming para games tem grande potencial no Brasil

Sem dúvidas, vivemos a era do streaming. O Spotify terminou o ano passado com 345 milhões de usuários ativos ao redor do mundo. A Netflix ultrapassou a marca de 200 milhões de assinantes. Só que, enquanto a tecnologia está consolidada na música e no audiovisual, ela ainda dá os primeiros passos na indústria dos games – e tem encontrado algumas pedras no caminho.
Vale lembrar que o cloud gaming – como são conhecidos os serviços de “Netflix de jogos” – não é sinônimo de transmitir um vídeo de game na Twitch. Ele consiste em jogar diretamente na nuvem, sem precisar de console ou outro hardware. Ou seja, o jogador não precisaria de equipamentos de última geração ou de consoles de R$ 5 mil para jogar os títulos mais recentes. Daria para jogar num computador capenga ou até mesmo em um celular.
Mas se o streaming praticamente acabou com os CDs de música, os aparelhos de DVD e com a Blockbuster, os consoles ainda devem fazer parte da vida dos gamers por um bom tempo. E no lado dos games, foi o streaming que sofreu uma baixa recentemente.
O Google Stadia, uma das principais plataformas de cloud gaming, fechou os estúdios de produção de jogos no início deste mês, em Montreal e Los Angeles, sendo que nenhum deles chegou a lançar um jogo, segundo o Kotaku.
Natureza técnica é uma barreira
Sony, Nvidia, Google e Amazon – principais empresas que trabalham com games – já têm serviços de cloud gaming, mas por enquanto a maioria não acenou para o público brasileiro. O serviço de nuvem PlayStation Now, por exemplo, existe desde 2014. A exceção, por enquanto, é a Microsoft, dona do Xbox, que lançou no Brasil o xCloud em beta, isto é, uma fase de testes para um grupo restrito de jogadores por um tempo determinado.
Mas por que o streaming de games tem tanto chão pela frente, se comparado a seus equivalentes de música e audiovisual? Uma primeira resposta tem a ver com a natureza técnica das três linguagens. Com música e vídeo, o usuário apenas recebe dados. No cloud gaming, esses dados precisam voltar – e rápido.
“Quando aperta o botão no controle, você envia um pacote de dados que é processado na nuvem e você recebe de volta aquela imagem com a ação que você fez. E tudo isso tem que acontecer em um espaço de tempo bem curto para que o jogador tenha a sensação de fluidez no game e não perceba o ‘lag’, ou seja, um atraso de resposta. O número mágico para isso é de mais ou menos 1,6 milissegundo”, diz Roberto Tadeu Rodrigues, especialista em telecomunicações, com ênfase em games.
Por outro lado, há de se provar a produtores e usuários que vale a pena pular para o novo modelo de consumo de games.

Dificuldade
“A principal dificuldade do cloud gaming é que ele precisa crescer para os dois lados, dos estúdios produtores e do público. Por enquanto, eles (desenvolvedores) preferem publicar nas plataformas tradicionais, porque isso já dá uma receita muito grande. No cloud, ganhariam só uma porcentagem da assinatura”, aponta Leandro Montoya, executivo na área de entretenimento digital.
E para os jogadores, é fundamental provar que os jogos na nuvem terão a mesma fluidez que a de um console. Essa tarefa é difícil em um país com uma infraestrutura de telecomunicação como a brasileira, principalmente fora dos grandes centros urbanos. E o futuro próximo dependerá de quando e como chegará ao país o 5G, nova geração de tecnologia sem fio.

Enorme público a ser explorado

O Brasil tem uma vantagem: um enorme público em potencial ainda não explorado e que muitas vezes acaba se satisfazendo com a pirataria. O elogiado “Zelda: Breath of the Wild”, por exemplo, foi lançado há quase quatro anos. O jogo está a R$ 300 na loja on-line da Nintendo. Para grande parte dos brasileiros, pagar um valor tão alto em um game é uma extravagância.
“A Netflix estourou no Brasil com uma assinatura que começou a um preço bem baixo e conseguiu atingir um público que usava pirataria. Tem muita gente que gostaria de jogar os jogos que estão nos consoles, só que ao mesmo tempo não pode pagar R$ 5 mil em um hardware. Se o cloud gaming for uma solução que deixa jogar franquias famosas do universo dos games e não somente os jogos de celular, a um custo de uma assinatura próximo aos do Spotify e Netflix, por exemplo, aí é onde está a grande sacada do modelo”, completa Roberto Tadeu Rodrigues.