Desde a infância, a literatura sempre esteve ao meu lado. Foram muitas as obras lidas neste período, desde a poesia lírica de Cecília Meireles até a prosa pessimista de Franz Kafka. Algumas me fizeram refletir, enquanto outras me mostraram novos caminhos. Mas todas me ensinaram algo.
Inclusive, sou capaz de afirmar que as obras literárias me ensinaram muito mais que qualquer pessoa ou instituição de ensino. Em meio a tantos livros, existem aqueles que nos marcam por serem capazes de transformar a nossa vida. Abaixo, três dos mais importantes deles:
Considerada uma das mais importantes distopias já escritas, Fahrenheit 451 nos alerta sobre um futuro em que governos totalitários passaram a considerar crime o fato de as pessoas terem livros. Quando encontrados, eles são queimados, muitas vezes junto aos donos.
Em suas casas, as pessoas são entretidas por telões gigantes, com programação fútil durante o dia todo. Nas ruas, os bombeiros (no livro, ironicamente são os bombeiros que promovem as queimas dos livros) fazem patrulhamento para evitar que as pessoas se encontrem para conversar.
Outro aspecto interessante é que em Fahrenheit 451, o chefe dos bombeiros explica que o discurso que promove a queima dos livros e o combate ao conhecimento apareceu de maneira rasa, com comentários extremistas, agressivos e com pouco ou nenhum embasamento científico/acadêmico.
Em tempos de avanço de ondas conservadoras e de pessoas pedindo a volta da ditadura, é um livro essencial para a reflexão.
O estranho misterioso (Mark Twain)
Quem conhece Mark Twain apenas pela obra Tom Sawyer não imagina que ele tem um livro profundamente pessimista.
O estranho misterioso se passa numa aldeia, durante a idade média, e narra o encontro de três crianças com um estranho, que se apresenta como um anjo chamado Satã. Ao mesmo tempo em que demonstra certo interesse pela vida humana, Satã a despreza, dizendo que a mente dos homens é pouco desenvolvida e que suas ações são irracionais e sem sentido.
Os diálogos elaborados, repletos de metáforas e ironias, trazem inúmeros questionamentos a respeito do senso moral e da natureza humana. Satã evidencia que o egoísmo nos isola, enquanto criamos uma dependência quase cega pelos bens materiais.
A falta de empatia, o pré-julgamento e o medo do conhecimento também são brilhantemente abordados na obra literária, sempre com um pessimismo quase kafkiano.
Satã também propõe uma reflexão a respeito da relação entre inteligência e felicidade. Diz que apenas os que têm uma visão extremamente distorcida da realidade conseguem ser realmente felizes. Os demais, quanto mais inteligentes forem, mais tristes serão, pois perceberão o que o mundo realmente é: um grande palco de injustiças e desigualdades.
Muitas das temáticas do livro viriam a ser abordadas posteriormente por escritores existencialistas, como Jean Paul Sartre, ou mesmo por pensadores do campo da psicanálise, como Jung.
O livro de areia (Jorge Luis Borges)
Com treze contos, O livro de areia nos propõe uma profunda reflexão filosófica sobre quem somos, o que buscamos e onde estamos. Narra, por exemplo, o encontro de um personagem com uma versão cinco décadas mais jovem de si mesmo. Da conversa saem conselhos, arrependimentos e a conclusão de que buscar Bruno da Silva Inácio cursa mestrado na Universidade Federal de Uberlândia, é especialista em Gestão Cultural, Literatura Contemporânea e em Cultura e Literatura.
Ele Cursa pós-graduação em Filosofia e Direitos Humanos e em Política e Sociedade. É autor dos livros “Gula, Ira e Todo o Resto”, “Coincidências Arquitetadas” e “Devaneios e alucinações”, além de ter participado de diversas obras impressas e digitais.
É colaborador dos sites Obvious e Superela e responsável pela página “O mundo na minha xícara de café”.o autoconhecimento não é uma tarefa fácil.