Verão aumenta riscos de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti

Altas temperaturas e chuvas frequentes formam condições ideais para a proliferação do mosquito

No verão aumenta a probabilidade da proliferação e casos de doenças como dengue, zika e chikungunya, todas transmitidas pelo Aedes aegypti. Isso acontece porque essa estação do ano é marcada por duas características essenciais para a proliferação do mosquito: altas temperaturas e chuvas freqüentes.
“O verão traz o maior risco devido às chuvas associadas ao comportamento das pessoas, que estão relaxadas e não se preocupam em eliminar os criadouros do Aedes aegypti”, afirma Melissa Palmieri, especialista em vigilância em saúde e coordenadora-médica do Grupo Pardini.
Os cuidados devem ser redobrados se levarmos em consideração o aumento do número de casos o ano passado.

Brasil
O país registrou 1.439.471 casos de dengue até 24 de agosto de 2019, número que representa um aumento de sete vezes em relação ao verificado no mesmo período de 2018, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Em índices percentuais, a variação foi de 599,5%.
O total de mortes confirmadas devido à infecção em 2019 chegou a 591, aproximadamente 260% a mais dos 160 casos confirmados de morte por dengue em 2018.

Ribeirão Preto
Ribeirão Preto encerrou 2019 com 14.189 casos de dengue, confirma o boletim epidemiológico. O número é 52 vezes maior na comparação com 2018, quando foram registrados 271 casos, e também supera o de outros quatro anos desde 2013, somente perdendo para 2016, com mais de 35 mil ocorrências.
Depois de uma alta de 820 % em novembro, a cidade teve uma elevação de 52% em dezembro, com 80 novos casos.
Franca
Franca registrou a maior epidemia de dengue da sua história com mais de 10,3 mil casos e uma morte em 2019. Preocupada com o avanço da doença, autoridades começaram 2020 reforçando os cuidados contra a doença, especialmente nesta época do ano, quando a chuva é comum, assim como o tempo mais quente, condições propícias para a proliferação do mosquito transmissor, o Aedes aegypti.

Ituverava
Em 2018 foram registradas em Ituverava, 76 notificações de dengue, 3 de zikavirus e 5 chikungunya. Em 2019 houve uma explosão da dengue, quando foram registradas 1.913 notificações da doença, sendo 1.823 casos foram positivos, 86 negativas e 4 aguardavam resultado.
Mas é bom lembrar que a partir do mês de julho houve uma desaceleração das notificações da doença que ficou estabilizada até o final do ano.

Cidade de São Paulo
No ano de 2019 foram registrados na cidade de São Paulo 16.815 casos de dengue e três mortes em decorrência da doença, além de um caso de chikungunya, segundo dados da Covisa (Coordenação de Vigilância em Saúde), órgão ligado à Secretaria Municipal da Saúde.
Foi o segundo maior número de casos da doença em São Paulo. Só perde para 2015, quando houve mais de 100 mil notificações.
No mesmo período do ano anterior, foram registrados 586 casos de dengue, 34 de chikungunya e 14 de febre amarela, com seis mortes pela doença. Em 2017, foram registradas 866 confirmações de dengue, 3 de zika e 33 de chikungunya.

Aumento notificações
Além da expectativa de aumento de notificações dessas doenças para 2020, há uma preocupação maior. Nos últimos cinco anos, circulou nos grandes centros o sorotipo 1 da dengue. O tipo 2 está sendo monitorado na cidade de São Paulo desde o verão passado.
“Você tem um contingente de vulneráveis, porque acredita-se que, nos grandes centros urbanos, 80% das pessoas já tiveram exposição ao vírus 1 e ficaram suscetíveis a outros tipos. Então, temos a somatória nada favorável: o verão, a entrada do novo sorotipo e o comportamento das pessoas”, explica Palmieri.
“Essas situações adversas vão colaborar para que o cenário epidemiológico não seja positivo nem controlado”, afirma.

Gravidade

Para Raquel Muarrek, infectologista do Hospital São Luiz, em São Paulo, a dengue está mais recorrente e há uma chance de ela ser mais grave (forma hemorrágica) por causa do novo sorotipo.
Palmieri reforça a importância de se eliminar os criadouros do mosquito Aedes aegypti semanalmente. “Não adianta cobrar do governo se enquanto cidadão você não faz a sua parte. A população não aderiu à ideia de que tem obrigação de cuidar da própria casa”, diz.
A médica dá outras dicas. “Geralmente, a picada do Aedes acontece por volta das 8h e por volta das 16h. É um mosquito que gosta de cor escura e odor forte, como o chulé. Use repelente nestes horários e cores claras”, destaca.

População deve fazer a sua parte no combate ao mosquito

Colaboração da população é de grande importância para o combate ao mosquito da dengue

Por conta das condições ideais para a proliferação do mosquito Aedes aegypti no verão, é fundamental que a população faça a sua parte. A regra básica é não deixar a água parada em qualquer tipo de recipiente.
Como a proliferação do mosquito da dengue é rápida, além das iniciativas governamentais, é essencial que a população também colabore para interromper o ciclo de transmissão e contaminação. Para se ter uma ideia, em 30 a 35 dias de vida, um único mosquito pode contaminar até 300 pessoas.
A dica é manter recipientes, como caixas d’água, barris, tambores, tanques e cisternas, devidamente fechados, e não deixar água parada em locais como: vidros, potes, pratos e vasos de plantas ou flores, garrafas, latas, pneus, panelas, calhas de telhados, bandejas, bacias, drenos de escoamento, canaletas, blocos de cimento, urnas de cemitério, folhas de plantas, tocos e bambus, buracos de árvores, atrás da geladeira, além de outros locais em que a água da chuva é coletada ou armazenada.

Ovo do mosquito
É bom lembrar que o ovo do mosquito da dengue pode sobreviver até 450 dias, mesmo se o local onde foi depositado estiver seco. Caso a área receba água novamente, o ovo ficará ativo e pode atingir a fase adulta em um espaço de tempo entre 2 e 3 dias. Por isso, é importante eliminar água e lavar os recipientes com água e sabão.
O Aedes aegypti é um mosquito doméstico. Ele vive dentro de casa e perto das pessoas. Com hábitos diurnos, ele se alimenta de sangue humano, sobretudo ao amanhecer e ao entardecer. A reprodução acontece em água limpa e parada, a partir da postura de ovos pelas fêmeas. Os ovos são colocados e distribuídos por diversos criadouros.

Limpeza

Em menos de 15 minutos é possível fazer uma varredura em casa e acabar com os recipientes com água parada – ambiente propício para procriação do Aedes aegypti. Veja as principais orientações no quadro.
Quando o foco do mosquito é detectado e não pode ser eliminado pelos moradores, como em terrenos baldios ou lixo acumulado na rua, a Secretaria Municipal de Saúde, por meio da Vigilância Sanitária, deve ser acionada para remover os possíveis criadouros. O telefone para contato em Ituverava é (16) 3839-0858.
Lembre-se: a dengue mata e a vítima pode ser você, um filho, mãe, pai ou um familiar, portanto cuide-se, para não chorar depois.

Brasil teve média de 206 casos de dengue por hora em 2019

De janeiro a novembro, país teve 1.520.424 casos prováveis (confirmados e suspeitos) da doença

O ano de 2019 chegou ao fim com uma média de 206 casos de dengue por hora. Dados do Ministério da Saúde mostram que foram 1.520.424 casos prováveis (confirmados e suspeitos) da doença entre 1º de janeiro e 4 de novembro (últimos números disponíveis).
Foram 723,5 casos a cada 100 mil habitantes, com um total de 732 óbitos decorrentes da doença. Em 2018 o país registrou 252.706 casos prováveis de dengue e 146 óbitos.
O Estado mais crítico foi Minas Gerais com 483.569 casos até dia 9 de dezembro, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde. Isso equivale a quase 59 casos por hora em território mineiro.
Minas Gerais possui 43,5% dos municípios com incidência considerada muito alta, equivalente a 371 cidades. O pior mês foi maio com 148.788 casos. Até agora, o Estado registrou 168 óbitos; no ano anterior foram 12.
A Secretaria de Saúde de Minas Gerais atribui a alta a três fatores: a densidade populacional do mosquito Aedes aegypti, influenciada pelas condições climáticas; densidade da população humana suscetível; e intensidade de circulação do sorotipo DENV2.

Contaminação
Melissa Falcão, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, explica que o vírus da dengue é dividido em quatro sorotipos. “Se a pessoa pegar um dos sorotipos ela está imune contra aquele sorotipo específico, ou seja, uma pessoa pode ser contaminada com a dengue até quatro vezes”, afirma.

Epidemia
A epidemia mais intensa de dengue já ocorrida no Brasil foi de 2015, com 1.621.797 casos. “Em 2015 foi o sorotipo DENV1. Nossa população não estava protegida contra o 2”, afirma.
O segundo Estado com maior número de casos foi São Paulo: 395.930 registros até 7 de dezembro. Dez cidades concentraram mais de 43% dos casos: São José do Rio Preto, Campinas, Bauru, Araraquara, São Paulo, Ribeirão Preto, Birigui, Araçatuba, Presidente Prudente e Guarulhos.
O Estado registrou 262 óbitos. Em 2018, foram 15.708 casos confirmados de dengue, com 14 mortes. “Não sabemos porque Minas, mas São Paulo pode ter sido um local com muitos casos por conta da urbanização desorganizada e descontrolada. Existem muitos locais com problemas de saneamento básico e dificuldade dos profissionais de saúde de alcançarem certos lugares para combater o vetor, como favelas”, explica a especialista.
A epidemia afetou principalmente os idosos. Segundo Melissa, 51% dos óbitos foram de pessoas com mais de 60 anos.

Doença sazonal

A dengue é considerada uma doença sazonal, ou seja, é esperado que a sua incidência aumente e que ocorra uma nova epidemia a cada 3 ou 5 anos.
“Normalmente o maior número de casos ocorre no verão, por aumentar a proliferação do mosquito vetor. Esse ano foi diferente, no inverno o número de casos continuou alto”, afirma Melissa.
Segundo ela, isso ocorreu, provavelmente, por conta das mudanças climáticas, que fizeram com que o inverno fosse mais quente e devido à circulação do sorotipo DENV2.
O número de casos começou a diminuir no final de outubro, mas especialistas acreditam que a incidência deve aumentar com a chegada do verão e, por este motivo, afirmam que as atitudes de prevenção devem continuar.