Vídeo: Barbeiro relembra Ituverava das décadas de 1960 e 1970

Vagner Cabrini também falou sobre projetos para o desenvolvimento do município nos próximos anos

O barbeiro Vagner Cabrini

Dando continuidade à série do especial sobre o futuro do município, a Tribuna de Ituverava entrevista nesta semana o barbeiro Vagner Cabrini, que reside na cidade desde 1962. Ao longo da entrevista, ele falou sobre sua relação com Ituverava e sobre o passado, presente e futuro da cidade. Confira:

Apresentação
“Sou Vagner Cabrini, natural de Batatais e vim para Ituverava em 1962. Sou casado com Sebastiana Terezinha Brunheroti Cabrini e tenho quatro filhos, sendo que dois vieram quando me mudei para Ituverava: Carlos César Cabrini, que é o mais velho, na época com quatro anos, e o José Fernando Cabrini, na época com dois anos. Depois tive duas filhas que nasceram aqui: Luciana Cabrini e Alessandra Cabrini.
Mudei-me para Ituverava a convite de um cunhado meu, Nelson Santo Brunheroti, que me incentivou mostrando que era uma cidade boa e progressista. Cheguei e gostei imediatamente da cidade, então comprei uma parte do Salão Rex (instalado ao lado da Relojoaria Brasil), que era de Gomercino José, Valdemar da Silva e Ernesto Chiconelli Filho. Eu fiquei com a parte do Gomercino, e ali começou a minha vida pessoal profissional em Ituverava, e, até hoje, atuo como barbeiro, na Rua Taiá, no Jardim Marajoara”.

Relação com a cidade
“Faz 56 anos que eu moro em Ituverava portanto, me considero mais ituveravense do que batataense. Eu não aceito quando um ituveravense fala mal da cidade, pois é um município ótimo e com um povo bom e hospitaleiro.
No Salão Rex, eu convivia com vários bons barbeiros, todos bem experientes, e quando comecei sofri uma pequena rejeição, até que teve um que teve a coragem de me enfrentar (risos), que foi o João Alberto de Souza (“Dim do Capivari”), que foi vereador. A partir daí as pessoas foram confiando pois viram que eu era realmente profissional, então me senti cada vez mais ituveravense, especialmente porque a cidade me acolheu de braços abertos”.

Ituverava do passado
“Ituverava, nessa época dos anos 60 e70, tinha um movimento muito grande. Era, inclusive, conhecida como a capital da Alta Mogiana, famosa pelas suas festas, como a de 10 de Março, em comemoração ao aniversário Emancipação Política da cidade, que contava com desfiles luxuosos, carros alegóricos, máquinas agrícolas, todas as escolas da cidade, bandas, entre outras atrações.
Hoje, infelizmente, a situação é diferente. Naquela época, a lavoura gerava um enorme movimento para Ituverava e também gerava serviço para o povo, o que foi muito importante.
Hoje, a nossa torcida é que a situação atual de Ituverava tenha uma reviravolta para que a cidade volte a crescer e ser aquela Ituverava alegre e progressista do passado”.

Economia
“Só para citar um exemplo, quando o Devair Antônio Chiconelli [era um dos gerentes do Banco do Brasil] se aposentou, um dia eu estava cortando o seu cabelo e ele me disse que naquela época, o Banco do Brasil de Ituverava era o segundo com maior movimento na região, perdendo apenas para Ribeirão Preto, mas ficando à frente de cidades como Franca, o fato ilustra a potencialidade da cidade na época.
A gente visitava as fazendas, os vendedores eram bem recebidos pelos fazendeiros. Tinha também os arrendantes, que não tocavam suas terras, mas arrendavam para plantações de algodão, soja, milho, sorgo, entre outras culturas. Isso fazia a cidade girar economicamente. Também tinha a CEAGESP, que recebia as mercadorias de Ituverava e região. Hoje ela está abandonada, não tem movimento nenhum, está fechada e deteriorando.

Faculdade
“Lembro que em um sábado, estávamos trabalhando e, de repente, desce uma comitiva com o Dr. Archibaldo [Moreira Coimbra], que era o prefeito na época, e outras pessoas, que não me lembro agora, mas eram da Maçonaria, festejando o reconhecimento da Faculdade em Ituverava. Eles trouxeram a informação de Brasília, e vieram fazendo festa, porque já estava indicado que iria ter em Ituverava uma faculdade.
Aquele dia, nos anos 70, foi plantada a semente que possibilitou que Ituverava se tornasse tudo que hoje é no cenário educacional, sendo conhecida em todo o Brasil pela qualidade de seus cursos.
Acredito que ainda vamos conseguir a Faculdade de Medicina, porque nós temos condições, pois além da estrutura da Fundação Educacional de Ituverava, temos o Hospital e Maternidade de Ituverava – São Jorge e a Santa Casa de Ituverava, que é modelo no Brasil. Por isso, acredito que a Fundação Educacional de Ituverava continuará trabalhando com muita dedicação, para que o curso de Medicina seja implantando e se torne uma grande referência, como aconteceu com o curso de Medicina Veterinária.
Além do curso de Medicina, tenho esperança de voltar a ver Ituverava plantando milho, soja e algodão. Isso vai fazer Ituverava novamente deslanchar, voltar a ser o que era na época dos anos 60 e 70”.

Ituverava do presente
“Hoje Ituverava é uma cidade menos acelerada, o que acredito ser em consequência da mudança da lavoura para plantação de cana-de-açúcar, que tirou muitos empregos do povo. Vejo que hoje a cidade está ficando mais velha, com a economia praticamente dependendo dos aposentados e são eles que contribuem Ituverava.
Também temos a Indústria Santa Maria, que é uma grande empresa, e supermercados que geram muitos empregos. Ainda temos as pequenas empresas, chamadas de “fundo de quintal”, que deveriam receber incentivos para sair da informalidade.
O Meu filho José Fernando Cabrini, por exemplo, tem uma empresa pequena de materiais de limpeza, que é a Santa Rita e gera cerca de cinco empregos, pessoas que trabalham dentro do barracão, além de outras que embalam os produtos. Ou seja, uma pequena empresa emprega por volta de cinco pessoas, então acredito que outras empresas deveriam seguir o exemplo. Também acho que prefeitos e vereadores devem agir para dar incentivo fiscal a essas empresas, o que beneficiaria muito o município”.

Distrito Industrial
“Seria bom também acontecer em Ituverava um Distrito Industrial, pois ele daria chance para outras empresas de fora virem para cá, pois nossa cidade é bem localizada geograficamente, tem o Rio do Carmo e a Estação de Tratamento de Esgoto e às margens da Rodovia Anhanguera. A cidade ainda conta com mão de obra qualificada, especialmente por conta dos cursos da FE, então, um distrito seria muito importante para nossos filhos e netos, que infelizmente quando se formam se mudam em busca de empregos. Eu mesmo tenho três filhos que estão fora por conta de emprego”.

Fato hilariante
“Um fato interessante que aconteceu do Salão Rex. Lá tinha um gerente na Anderson Cleiton [que era umas maiores empresas de compra de produtos agrícolas do país], o Sr. Mário. Ele era muito amigo do Edmur Viaro, que também gostava de armar umas brincadeiras, e cada vez que o Sr. Mário chegava para cortar o cabelo e sentava na cadeira do Ernestinho, tirava o chapéu, tirava os aparelhos auditivos, e falava para o Ernesto ‘agora você pode falar o que você quiser que eu não estou ouvindo nada’, então o Ernesto falava que era um homem chato, enjoado e muitas outras coisas.
Um dia, o Edmur contou para o Sr. Mário que o Ernesto falava essas coisas quando ele tirava o aparelho auditivo, e aconteceu um dia ele chegou para cortar o cabelo, tirou o chapéu, fez os mesmos gestos, e falou para o Ernesto, ‘agora você pode falar o que quiser que eu não vou ouvir’, e o Ernesto começou a falar, “Oh, homem chato, você é chato, nojento, fica enchendo o saco”, aí o Sr. Mário virou para o Ernesto e falou, ‘o que você está falando? Que eu sou chato?’. O Ernesto quase morreu, mas é que na verdade o Sr. Mário havia feito uma cirurgia no ouvido”.

Vida social
“Quando eu vim para Ituverava, a cidade tinha uma vida social que era de primeira linha. A Associação Atlética Ituveravense tinha bailes famosos, inclusive de gala, em que as pessoas vestiam roupas sociais. Naquela época, estiveram aqui vários artistas, inclusive Roberto Carlos e Fafá de Belém. Eu não peguei essa época, mas dizem que já vieram Orlando Silva, Nelson Gonçalves e Emilinha Borba. Depois o preço da mensalidade da AAI foi subindo e o número de sócios diminuindo, até que entrou nessa crise que se encontra atualmente”.

Esporte na cidade I

“Na década de 70, Tomires, goleiro da Associação, chamou o Ernesto, o João Gonçalves Lino (“João Barbeiro”) que tinha comprado a parte do Valdemar no salão e eu, para promovermos um Campeonato Dente de Leite, que reunia times da Paróquia do Zezim do Padre, Arroz Cascata, Paulistano, Independente, entre outros.
Nós reunimos jovens e montamos o time do Salão Rex. Tentamos levar para eles, além do contato com o esporte, importantes valores. Fazíamos, por exemplo, eles rezarem antes dos jogos e pedirem a benção para os pais. Lembro que as arquibancadas sempre ficavam lotadas e que nessa época o Tomires foi contratado pelo Comercial de Ribeirão Preto, então coube ao João Barbeiro, ao Ernesto Chiconelli e a mim dar continuidade à competição, que levamos até o fim.

Esporte na cidade II

Na época o Hélvio Nunes da Silva era deputado e nós pedimos para ele medalhas. E ele não só deu muitas medalhas, mas também troféus e bolas, nós colocamos na porta do Salão Rex, e no final do campeonato nós fizemos convite para os familiares dos jogadores comparecerem e lotou as arquibancadas da campo da AAI, foi uma festa muito bonita, inclusive com a banda do Nelson Corado (”Rabastine), foi muito bonito, na época apareceu o prefeito, os vereadores, foi uma festa, estou contando essa história desse campeonato Dente de Leite, porque naquela época Ituverava o esporte era ativo, a AAI tinha um grande time, inclusive saíram daqui vários jogadores para outros times, e, nessa altura o Tomires foi um deles, então nós conseguimos terminar com festa esse torneio, que naquela época dava atividade até para as crianças não ficarem nas ruas, em todos os cantos da cidade havia um time, pois naquela época o esporte em Ituverava era realmente muito bom, mas hoje quase não existe, se compararmos com antigamente, pois tem pouca gente que tem interesse, não temos muita gente que realmente tem vontade.

Tribuna de Ituverava

A Tribuna de Ituverava não tem como não falar (risos) eu quando cheguei em Ituverava em 1962, fiquei conhecendo o Sr. Adhemar Cassiano, pois passava na frente do escritório do jornal na rua da igreja, e ele era uma pessoa sempre alegre comigo, com o Ernestinho. Conheci o professor José Franco Rodrigues que foi muitos anos colaborador do jornal, inclusive meu filho Carlos César Cabrini, que hoje mora em Luís Eduardo Magalhães, sempre lia os artigos do professor José Franco Rodrigues e, um belo dia, estávamos em um aniversário todos juntos na casa de seu filho, o Dr. José Antônio Hiesinger Rodrigues, e o Carlos César sentou perto dele só para conversar sobre os artigos que ele escrevia para a Tribuna. Ela ficou supersatisfeito, e o Carlos César virou seu fã pelos artigos que ele fazia, então não tem como não falar da Tribuna de Ituverava, inclusive eu, que uns quatro ou cinco anos sou assinante do jornal. Inclusive, quando fiquei uma temporada fora do salão, quando voltei fiz uma propaganda no jornal, então eu só tenho que dar os parabéns para esse jornal que sempre foi uma referência para Ituverava. Parabéns, Tribuna de Ituverava.