Um dos principais meios de propagação da literatura durante o período de Ditadura Militar no Brasil, a Geração Mimeógrafo – também chamada de Poesia Marginal – foi um movimento que transformou a literatura nacional a partir da linguagem coloquial, do tom de protesto, do bom humor e das imagens visuais que muitas vezes acompanhavam os poemas.
Surgida em meio a um momento bastante conturbado no Brasil, tanto no que se refere à política quanto no que se refere à cultura, devido ao Regime Militar (1964-1985), a Geração Mimeógrafo possui como principal peculiaridade a maneira como as poesias eram distribuídas: os autores escreviam os poemas, tiravam cópias através de mimeógrafos – equipamento que produz cópias a partir de matriz perfurada (estêncil) afixada em torno de pequena bobina de entintamento interno e acionada por tração manual ou mecânica -, grampeavam como um livreto e os distribuíam ou vendiam.
A Geração Mimeógrafo também é bastante conhecida como Poesia Marginal, o que faz necessário explicar, sobretudo às pessoas pouco interessadas em arte, que a palavra marginal tem muitos significados. Primeiramente, é considerada uma expressão artística marginal porque possui maneiras alternativas de produção, ou seja, ao invés de os livros serem lançados por editoras, eram produzidos manualmente.
Outra razão pelo qual o nome marginal foi dado é porque é um tipo de arte que está à margem daquilo que é considerado comum. Por fim, outro fator determinante para que o nome fosse adotado é o fato de as poesias abordarem assuntos que colocam em evidência grupos estigmatizados na sociedade, como negros, pobres e homossexuais.
A Geração Mimeógrafo surgiu num momento de grande repreensão, em que artistas e intelectuais sentiam a sua liberdade de expressão ficar cada vez menor.
As editoras, por exemplo, eram censuradas pelo governo militar, o que impossibilitava que livros abordassem temas considerados delicados.
Características
Em meio a isso, autores – principalmente de grandes centros, como é o caso do Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo – passaram a produzir as suas próprias obras, utilizando-se do mimeógrafo como ferramenta. O custo de produção era baixo e mesmo o lucro era pequeno, porém a principal ideia não era ganhar dinheiro, mas sim se expressar.
Com linguagem coloquial e com temas ligados ao cotidiano, sobretudo do jovem, os poetas marginais faziam críticas à Ditadura Militar e se tornaram responsáveis por uma profunda mudança na estética da poesia brasileira, e até na forma de se produzir e comercializar livros.
Outra proposta do movimento foi romper com a elitização da arte, pois naquela época apenas as pessoas em situação econômica favorável tinham fácil acesso à arte.
Com seu modo de produção artesanal e baixos custos, a poesia passou a ser acessível a todas as classes sociais. Além disso, a linguagem simples, direta e coloquial, e os temas cotidianos permitiam que os poemas fossem facilmente compreendidos.
Ou seja, a arte, antes de difícil acesso – não só pela censura, mas também pelo elevado preço – agora passava a estar disponível para todos, mesmo que numa espécie de submundo, já que os artistas vendiam as suas obras às escondidas, em bares e mesmo nas ruas, longe dos olhos de policiais, membros do exército e representantes do governo.
Representantes e legado
O grupo conseguia reunir, com sua obra, representantes das mais diferentes camadas sociais e culturais. A arte cumpria o seu papel de unir as pessoas, e os autores se apropriavam da facilidade de produção para fazer cada vez mais livros.
Dentre os principais representantes do movimento estão Chacal, Cacaso, Paulo Leminski, Ana Cristina César, Nicolas Behr, Waly Salomão e Torquato Neto.
A Geração Mimeógrafo deixou um legado muito grande. Desde que o movimento ocorreu, a poesia nunca mais foi a mesma, pois escritores passaram a ter
Bruno da Silva Inácio é jornalista, mestre em Comunicação e pós-graduado em Literatura Contemporânea, Política e Sociedade e Cultura e Literatura. Atualmente cursa quatro especializações (Cinema, Teoria Psicanalítica, Antropologia e Gestão da Comunicação) e reside em Uberlândia, onde trabalha como assessor de imprensa da Prefeitura.
É autor dos livros “Gula, Ira e Todo o Resto” e “Devaneios e alucinações”, participante de outras quinze obras literárias e colaborador da Tribuna de Ituverava e dos sites Obvious, Provocações Filosóficas e Tenho Mais Discos que Amigos. Também manteve, entre 2015 e 2019, a página “O mundo na minha xícara de café”, que chegou a contar com 250 mil seguidores no Facebook.


